segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O REALISMO ROMÂNTICO, E SEM VERGONHA, DE AKINS KINTÊ

Por Nabor Jr.
Fotos Emy Sato

Modelo Simone Grazielle

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ou, Toda Nudez Será Castigada
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Linda mulher preta
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Linda mulher preta
Linda mulher
sempre juntos Guerreira de axé
Cabelos, lábios, seios, são valores
Amamentando nossos filhos
Futuros sofredores
Fruto de amores
Pra defender a família
Segura firme a metranca
Enfrenta como mulher preta
A sociedade machista branca
Em paz com a família olhar vivo
Orgulhosa de si o semblante altivo
Se for assim pretinha
Quero sempre companheira
Nas noites mais felizes
Ou nos dias duros nas trincheiras
Em pé de guerra com o mundo
É nóis guerreira
Pantera, única, verdadeira
Poder, arma conhecimento proponho
Linda mulher preta
Deusa dos meus sonhos
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Akins Kinte

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Mesclando o erotismo e a sensualidade que marcaram parte da carreira do jornalista e escritor pernambucano Nelson Rodrigues (realista dos bons!), adicionando ao já apimentado repertório de “sacanagens” do recifense boas doses do carnal realismo suburbano contemporâneo, o poeta paulistano Akins Kintê desnuda, mesmo que metaforicamente, os sentimentos de quem o ouve. Impossível não se imaginar protagonista dos seus relatos ou tão pouco não desejar as mulheres idealizadas em seus versos e prosas.
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Filho da literatura suburbana, Akins, como poucos, transforma em poesia os amores e dissabores do cotidiano periférico. Seu texto, que por vezes peca pela repetição e ausência de uma gramática mais robusta que realmente surpreenda ouvidos e paladares, é rico em ritmo e cadência, características que sua particular ginga confere aos seus versos. Ao vivo, a performance do poeta/ MC, ora desleixada e desinteressada, ora séria e serena, é de causar inveja a malandragem sadia do mais suburbano dos partideiros cariocas.
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Se tiver fôlego para dar continuidade e vazão a sua produção, Akins corre o sério risco de ser o que os olhos lacrimejados de emoção de quem o vê já vislumbram, o grande poeta erótico da marginália paulistana.
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"Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa.
Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista.
Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico".
Nelson Rodrigues
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