segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Á VELHA GUARDA COM CARINHO

POR NABOR JR.

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Imersão étnica do fotógrafo Wagner Celestino visita à memória negra paulistana
através das imagens dos seus sambistas pioneiros
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Já disseram que São Paulo era o túmulo do samba. De certo, esqueceram que o samba agoniza, mas não morre. Essa imortalidade rítmica e sanguínea pulsa não somente nas letras e batuques das rodas de samba espalhadas pela cidade, mas também no miscigenado cotidiano paulistano, se entrelaçando na trajetória biográfica de pessoas que tem o ritmo como religião, doutrina e estilo de vida, quando não, como sentido para a vida.
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E foi justamente a este último grupo que as lentes do fotógrafo paulistano Wagner Celestino, 59, se voltaram quando, em março de 2003, ele iniciou o audacioso projeto de registrar os remanescentes da Velha Guarda das Escolas de Samba da Cidade de São Paulo.
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A visita à memória negra paulistana através das imagens dos seus sambistas pioneiros, protagonistas dos primeiros batuques dos cordões carnavalescos da cidade, recoloca esses baluartes como atores principais de um filme por eles criado, produzido e estrelado.
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O resultado dessa imersão étnica e fotográfica é um ensaio poético, simples e sereno, que faz jus a importância histórica dos 29 personagens retratados. Uma verdadeira homenagem aos olhos e ouvidos dos paulistanos, sejam eles sambistas ou não.
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ENTREVISTA
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Fale um pouco da sua carreira profissional como fotógrafo. O início, momento atual e trabalhos que considera mais representativos.
WC -
O meu interesse pela fotografia nasceu sob a influência do meu pai, Camilo, e sua câmera Agfa de fole, isso no início dos anos sessenta. Um torneiro mecânico que gostava de fotografar. Em 1973, numa viagem pelo Peru e Bolívia, este interesse se acentuou.
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No segundo semestre de 1977, pelas mãos do amigo e fotógrafo Luiz Paulo Lima, passei a frequentar o plantão fotográfico do Museu Lasar Segall. Meu primeiro contato com os conceitos e princípios básicos da fotografia preto&branco.
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Neste começo de 2011, não tenho nenhum projeto específico. Por enquanto.
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O livro Cortiços - a realidade que ninguém vê (1997) e o trabalho de documentação e resgate da nossa Velha Guarda são representativos e sintetizam os meus ideais com a fotografia: o social, o cultural e o negro brasileiro.
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O livro Cortiços evidencia a situação social do país denunciando o caos da moradia popular, que ainda não é um caso resolvido no Brasil. Qual o objetivo do seu projeto de registrar os remanescentes da Velha Guarda das Escolas de Samba da Cidade de São Paulo?
WC -
O objetivo principal do livro Cortiços, foi retratar uma realidade não vista pela sociedade. Normalmente um cortiço fica atrás da porta de um casarão e seu quintal, diferente da favela, mais exposta. A falta de vontade política, de quem detém o poder, agrava esta situação. Na cidade e no campo.
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Registrar os remanescentes da Velha Guarda das Escolas de Samba Paulistana é resgatar
a importante contribuição dada pelo negro ao patrimônio cultural da cidade de São Paulo. A criação das Escolas de Samba.
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O Projeto nasceu, ou melhor, começou a ser executado em 2003. O que desencadeou esse projeto. Porque você decidiu fazê-lo?
WC -
A idéia nasceu no começo nos anos noventa. Após algumas tentativas frustradas para conseguir apoio, resolvi inicia-lo em março de 2003. Às próprias custas (Itamar Assumpção). A comercialização e os descaminhos do carnaval, o descaso com esses remanescentes, o esquecimento (a nossa crônica falta de memória) são e foram os motivos dados para o início do projeto.
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Através da linguagem fotográfica, extravaso o meu respeito e admiração à nossa cultura e reverencio merecidamente essas pessoas.
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O projeto com a Velha Guarda, também, é o retorno à minha infância na Vila Matilde e o privilégio de ter convivido, nos anos sessenta, com o histórico carnaval da Vila Esperança. Minhas raízes suburbanas.
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Você disse que o projeto está meio estacionado em razão da falta de incentivo. Quando foi feita a última fotografia da série? Pretende dar continuidade ao projeto em 2011?
WC -
Infelizmente não consegui este apoio fundamental. O projeto original é a edição de um livro (distribuição gratuita), para que todos tenham acesso. A última fotografia fiz há uns três anos. Apesar das indiferenças, descasos e do analfabetismo cultural, continuarei teimando neste 2011. A Velha Guarda merece.
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Quantas e quais as pessoas que já foram fotografadas?
WC -
Registrei 28 personagens, infelizmente alguns faleceram. Além dos registros fotográficos, gravei, em fita cassete, o depoimento de cada um. Através da oralidade tenho a verdadeira história das origens das Escolas de Samba da Cidade de São Paulo, contada por quem realmente fez.
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Quais sambistas (vivos) que ainda não foram fotografados e que você considera essenciais para o projeto?
WC -
Vinte e oito pessoas é apenas uma parcela, existem outras nas mais variadas agremiações ou à margem de todo o processo carnavalesco. Tive a felicidade de ter registrado os principais organizadores e fundadores desta manifestação cultural. Exceto a Madrinha Eunice, o Pé Rachado, Inocêncio Mulata, Geraldo Filme, faleceram antes do inicio deste projeto. Fica para a próxima!
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As imagens foram feitas nas casas dos retratados? Existe uma preocupação em estabelecer alguma afetividade com os locais escolhidos?
WC -
Praticamente todas as pessoas retratadas abriram gentilmente as portas de suas casas. Essa afetividade procurei passar através da fotografia. Entre um café e uma fatia de bolo de fubá procurei fazer o melhor possível.
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Quero deixar registrado o meu agradecimento ao MuseuAfrobrasil e seu curador Emanoel Araujo, a primeira e única porta a se abrir para este trabalho. Outra porta importante, nesta caminhada, é a da Galeria Oço, e seu curador Claudinei Roberto, também um amigo. Saravá.
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wagnercele@gmail.com
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LEIA
Os sons negros do Brasil
José Ramos Tinhorão
Art Editora
São Paulo, 1998
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Samba de Umbigada
Edison Carneiro
MEC
Rio de Janeiro, 1961
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Sambista Imortais
J. MUNIZ JR.
Ed. Part.
Santos, 1977.
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Dicionário Musical Brasileiro
Mário de Andrade
Editora da Universidade de São Paulo
São Paulo, 1989.