segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Samba, suor e resistência.

Por Nabor Jr.
Conteúdo produzido em Março de 2004
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Especial Samba Paulista (Dionísio Barbosa)
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Nascido na cidade paulista de Itirapina, em 1891, Dionísio Barbosa, segundo o músico Oswaldinho da Cuíca, “foi o grande responsável por definir o marco inicial do samba em São Paulo”, quando em 1914, o sambista criou o primeiro cordão carnavalesco da história da capital bandeirante, intitulado Grupo Carnavalesco Barra Funda, que anos mais tarde transformaria-se no cordão Camisa Verde e Branco e, posteriormente na tradicional escola de samba Camisa Verde e Branco, já que os integrantes do grupo desfilavam com calças brancas e camisas verdes.

Filho de um escravo baiano que era carapina de profissão e exímio dançador de Caiapó e de uma índia da aldeia jesuítica de Conceição dos Guarulhos, Dionísio também foi um mestre carapina que ao migrar para São Paulo trabalhou em uma empresa moveleira no bairro do Bom Retiro. E foi justamente a pedido da empresa que o sambista mudou-se, a trabalho, para o Rio de Janeiro, onde permaneceu de 1912 a 1914, e lá conheceu os ranchos carnavalescos, e se admirou com a beleza das performances das Bandas Marciais. Retornando a São Paulo, fundou o primeiro cordão da cidade, cujos componentes, em virtude da falta de espaço a da forte repressão policial, ensaiavam no quintal da sua própria casa na rua Conselheira Brotero.

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Dionísio Barbosa. Patriarca do carnaval paulistano, em foto batida durante a entrevista realizada pela equipe do M.I.S. em 1976.
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“Enquanto em 1914 o mundo assistia à eclosão da Primeira Guerra Mundial, em São Paulo, mais precisamente no Largo da Banana, um grupo de paulistanos decidia fazer sua própria revolução. Suas reivindicações? O direito de se divertir no carnaval da mesma forma que as elites. Foi assim que o ”rebelde” Dionísio Barbosa criou o grupo carnavalesco Barra Funda, cujo nome homenageava sua tradicional vestimenta nos carnavais”, conta o historiador T. Kaçula.

“Os negros não tinham a liberdade de participar do carnaval. Só com o surgimento da primeira sociedade negra no carnaval de São Paulo, dirigida por Dionísio é eles conquistaram esse direito. Por isso a importância deste senhor”, ressalta Oswaldinho da Cuíca que, no samba Ao Velho Batuqueiro, feito em parceria com Maurinho da Mazzei, narra a história do samba na Terra da Garoa e homenageia o pioneirismo do sambista: "Se a Paulicéia hoje canta e se agiganta/ E o nosso samba que encanta tem matriz/ Foi Dionísio Barbosa quem deu o fruto, a semente e também a raiz".

Na mesma época em que nasceu o Grupo Carnavalesco Barra Funda, foi criado o Corso, para afastar os jovens ricos das festas populares. No carnaval motorizado da elite paulistana, a diversão era percorrer a Av. Paulista, endereço dos barões do café, jogando confete e serpentina uns nos outros.

Assim, quando um grupo de cerca de 20 adolescentes da Barra Funda, tendo à frente o jovem negro Dionísio Barbosa chegou ao Centro de São Paulo, dançando e balançando chocalhos feitos com chapinhas de metal pregadas em ripas de madeira, em 1914, a burguesia paulistana já havia transferido o corso de seus carros e carruagens para a avenida Paulista, no alto do espigão que divide a cidade. Dionísio e seus amigos voltariam no ano seguinte, no seguinte e no seguinte, depois deles vieram outros, da Bela Vista, do Brás e dos outros bairros pobres paulistanos: dançavam pelas ruas do Triângulo, passavam em frente à Central de Polícia, no Páteo do Colégio, e iam se divertir nos salões de baile das ruas 25 de Março, do Carmo e Quintino Bocaiúva, antes de voltarem para casa.

Dionísio Barbosa, patriarca do carnaval paulistano, morreu em 1977.