Presidente da Unas (União de Núcleos Associação e Sociedades dos Moradores de Heliópolis e São João Clímaco)
Violência em Heliópolis
A favela de Heliópolis não é só o que estamos vendo hoje nos meios de comunicação. A comunidade tem uma história de luta na cidade de São Paulo, com uma população de 125 mil habitantes. Destes, 53% é constituída de crianças, jovens e adolescentes. Essa favela nasceu na década de 70, quando aqui chegaram as primeiras 100 famílias vindas da antiga favela Vergueirinho, na Vila Prudente, para possibilitar a construção do viaduto da Ford. A Prefeitura, na época do então Prefeito Reynaldo de Barros (e do Governador Paulo Maluf), prometeu as famílias colocá-las em um alojamento provisório por 30 dias. Esse alojamento durou mais de 30 anos e somente agora foi removido com as obras oriundas do PAC/Heliópolis, onde começam a ser investidos R$196 milhões, com a participação dos Governos Federal, Estadual e Municipal.
Com a luta dos moradores, temos conquistado projetos sociais que têm mudado a realidade de uma parcela muito pequena dos jovens de nossa comunidade, além da implantação de programas sociais como: creches, e escola técnica (com 520 alunos, em sua maioria da comunidade, que terão acesso ao curso técnico profissionalizante do gabarito do Centro Paulo Souza).
A Escola Campos Sales e outras do entorno têm-se esforçado para a melhoria da qualidade do ensino. Há dois anos, tem implantado o Projeto Escola sem Muros, onde alunos maiores contribuem com o ensino de outros. Pelo 11º ano consecutivo, foi realizada a Caminhada pela Paz.
Vem-se erguendo na comunidade o Pólo Educacional Heliópolis, com a participação do Secretário Municipal da Educação, Alexandre Schneider, e a contribuição solidária do arquiteto Ruy Ohtake, entre outras personalidades da sociedade civil organizada. Está sendo implantando um projeto focado na melhoria do ensino no âmbito das escolas municipais. Assim, nossa luta é transformar Heliópolis em um Bairro Educador, com os princípios: da Solidariedade, Autonomia, Responsabilidade, tendo a escola como centro de lideranças conscientes de que tudo passa pela educação.
Temos articulado junto ao poder público novos projetos e ações visando à melhoria da qualidade de vida para os moradores. Nesse sentido, estivemos em Brasília fazendo gestões junto aos Ministérios: das Cidades, do Trabalho, Cultura, das Comunicações, da Saúde, entre outros, resultando em algumas iniciativas de projetos, embora tímidas, pelo tamanho da população local e sua dimensão no contexto do Estado de São Paulo.
No campo do Poder Executivo, recebemos o Prefeito Gilberto Kassab, tendo participado, em 4 de junho de 2009, da XI Caminhada pela Paz. O Governador José Serra, que anunciou a construção da Escola Técnica, entre outras medidas, e o Presidente Lula, por duas vezes (2005 e 2008) legalizou a rádio comunitária e inaugurou a biblioteca comunitária, com gestão da comunidade. Em outra oportunidade, destinou R$196 milhões do PAC, ação esta que já está em curso ali naquela comunidade.
Hoje, a Folha de S.Paulo traz entrevista da Relatora Ana Murad, da Moradia, que diz: “A favela atraí investimento”. Nesta mentalidade, reside um grande equívoco, apesar de reconhecermos os avanços, a vontade política e até as ações paliativas. Heliópolis precisa conquistar sua cidadania em conjunto com essas ações e acreditamos que isso só poderá se tornar realidade quando avançar contra os problemas de forma estrutural com a inclusão dos jovens em busca do primeiro emprego, o acesso à educação de qualidade, inclusive no nível superior.
Sabemos que, quando chamados para exercer o seu papel positivamente, a juventude responde com propostas renovadoras. E, assim sempre, quando é dada a oportunidade, como foi o caso da escola técnica citada, a concessão das bolsas de estudo pela Universidade São Marcos.
Sabemos todos que nossas crianças já nascem condenadas a não terem uma profissão. Quantos jovens da comunidade de Heliópolis frequentam a USP?
Com a morte de nossa jovem, Ana Cristina de Macedo, de 17 anos, já se acumulam vários episódios de violência policial, nem todos com a cobertura da imprensa, mesmo quando culmina com vítima fatal. Não é somente a perda de nosso jovem, quando realiza a chamada operação varredura, casas são invadidas, pessoas são desrespeitadas em seu direito fundamental, como o de ir e vir, isso a título de defender o estado de direito e a ordem pública, como por ocasião do episódio da menina Tainá, de oito anos, que felizmente sobreviveu, mas o método foi o mesmo, com a diferença de que a comunidade ali se viu obrigada a proteger a vida de um dos policiais que participaram do episódio,o que ontem não ocorreu, pois a vítima Ana Cristina morreu.
Na nossa coirmã favela Paraisópolis, aconteceram fatos muito semelhantes.
A UNAS – União de Núcleos Associação e Sociedades dos Moradores de Heliópolis e São João Clímaco - tem aberto o diálogo com o poder público, inclusive conversando sobre esses acontecimentos com autoridades da direção da Polícia Militar, tendo uma reunião com o Comandante-Geral da PM, com o apoio de alguns parceiros da entidade. A UNAS condena e repudia os atos de vandalismo, seja de quem for.
Lembramos ainda que, apesar do abandono do Estado, Heliópolis tem um dos menores índices de violência do Estado de São Paulo e do Brasil, mas um dos menores Índices de Desenvolvimento Humano e também um dos maiores índices de pobreza.
Cabe também salientar que a imprensa no Brasil precisa contribuir para construir um Brasil melhor, inclusive em Heliópolis.