quarta-feira, 5 de agosto de 2009

África em Nós: Arquitetos da cultura brasileira


A Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, através da Secretaria de Estado da Cultura (Assessoria de Cultura para Gêneros e Etnias), com o apoio da Cone (Coordenadoria Especial dos Assuntos da População Negra), lançou na última semana a campanha fotográfica África em Nós, que convoca a população paulista a mostrar, por intermédio da fotografia, o que ela vê, sente e compreende sobre a presença e a herança africana no nosso dia a dia.

Interesses políticos à parte, trata-se de uma excelente iniciativa, ainda mais por vir de cima para baixo, ou seja, de quem deveria dar o exemplo, mas que durante décadas procurou camuflar do povo a “incamuflável” contribuição do elemento negro não somente no desenvolvimento econômico e na formação cultural do Brasil, como, também, no idioma, costumes, trajes, religião, cozinha, artes e, sobretudo, na música.

Mas nosso país tropical, que desde Cabral sempre mostrou-se incapaz (ou coagido) de externar suas vontades, desejos e, principalmente, que jamais teve coragem de assumir sua vocação multi-etnica, negando suas origens indígenas e africanas, hoje, seduzido pela globalização, dá a impressão de ter perdido o tempo de adquirir uma identidade pura e própria, para se esbaldar (ou se agregar) na cultura dos outros.

Durante séculos, do descobrimento, passando pela monarquia a chamada democracia contemporânea, o Brasil, que sempre perseguiu uma identidade cultural própria, jamais percebeu, ou admitiu, que esta esteve sempre debaixo do seu nariz, seja encabeçada pelos índios (primeiros “donos do pedaço”), mas socialmente excluídos (e também escravizados) pelos portugueses que aqui chegaram, ou pelos negros, igualmente escravizados e que durante anos foram considerados, em tudo, inferiores ao branco, que esnobou, enquanto pode, a contribuição deste povo na formação do país.

Hoje, mais 500 anos depois do descobrimento do Brasil, seu povo, menos internacionalizado que outrora, é verdade, ainda segue órfão de uma verdadeira e autêntica identidade cultural que englobe todo o país.

Revirar os arquivos históricos de um passado nem tão distante assim, talvez seja a melhor forma de encontrar essa caracterização intensamente procurada no início do século XIX e que ainda nos dias atuais, já totalmente fragmentada e colorida, custa a aparecer.

A importância da campanha África em Nós está justamente aí, pois ao propor a valorização da nossa diversidade cultural, a campanha estimula os participantes a olhar para suas origens, suas raízes. Este resgate é importante, se não essencial, para a formação de um país mais justo com seus verdadeiros arquitetos devidamente valorizados e reconhecidos.


+ INFO: http://www.africaemnos.com.br/



ps. Os índios também terão a sua vez?