domingo, 7 de junho de 2009

Prazer, Indústria Cultural!


A termologia Indústria Cultural, criada no final da década de 40 por um grupo de filósofos e sociólogos da Escola de Frankfurt, nasceu, logo após o boom da Revolução industrial, com o objetivo de definir o início de uma nova era, a da conversão da cultura em mercadoria, ou seja, para estabelecer cronologicamente quando a produção cultural, e porque não a intelectual também, passou a ser guiada pela possibilidade (e muitas vezes com a finalidade) de consumo.

Dessa maneira, manifestações artísticas que se sustentavam única e exclusivamente pelo seu caráter ideológico, contemplativo e artesanal, transformaram-se em produto. Muitos, devorados pela Cultura de Massa, ultrapassaram a barreira mercadológica, foram tragados pelo mercado e tornaram-se pop, rendendo furtunas, nem sempre a quem de direito.


Além de excessialmente transformadora, toda revolução causa profundas mudanças sociais, políticas e econômicas, com a Revolução Industrial, uma das mais importantes dos últimos séculos, não foi diferente.

Acuada e acompanhando a evolução natural dos tempos, a produção cultural e os artistas viram-se obrigados a integrar este novo paradigma que se apresentava, nem bom, nem ruim, mas parte integrante da evolução a qual somos diariamente submetidos.

Porém, algumas manifestações, caracterizadas como marginal e contraculturais, sobreviveram, na medida do possível, a essa avalanche capitalista.

Caminhando algumas casas deste jogo da vida e chegando até o início do século XXI, precisamente nos anos 2000, e em especial na terra brasilis, temos alguns exemplos desta resistência, não necessariamente imposta pelos protagonistas destas manifestações, mas também pelo mercado, anestisiado e protegido do novo, desconhecido e audacioso.

O Rap, o break, o grafitte e a pixação, por exemplo, são segmentos que há anos travam uma interessante queda de braço com a a Indústria Cultural. Alguns, mesmo que em curtos e específicos momentos da história, venceram a briga com a maioria branca e conservadora responsável por “mandar soltar e prender”, e nadaram de braçada no mercado consumidor.

A renovação na estrutura, por vezes até no comando dos grandes veículos de comunicação do país (principais responsáveis por disseminar o que deve e o que não deve ser consumido), somada a força dos nichos onde essas manifestações se dão, foram fundamentais para as conquistas obtidas por esses segmentos artísticos especificamente.

Se a popularização de produções que outrora gabavam-se por serem undergorunds melhorou, ou piorou a vida os protagonistas destas manifestações só o tempo dirá. Mas as preces de quem um dia quis ver a cultura marginal ser absorvida por um mercado mais amplo, fiannceiramente capaz de consumir o que a Indústria Cultural oferece, pode estar perto de se concretizar.

Uma rápida passagem pela década de 90 nos faz lembrar que a primeira manifestação, entre os segmenbtos artíticos já citados n texto, a sair do seu nicho de mercado para percorrer as páginas e programas dos principais meios de comunicação do Brasil foi o Rap.

Em meados de 1997/98, logo após lançarem o estrondoso álbum “Sobrevivendo no Inferno”, Mano Brown, Ice Blue, Edy Rock e Kl Jay, levaram o Rap e o cotidiano das favelas para os ouvidos da classe média e alta, na ocasião, especialmente o fênomeno Racionais MC´s.
Todos queriam saber quem eram aqueles caras de roupa larga e mal encarados do extremo sul de São Paulo que, com uma frase, formavam a opinião de multidões. Influenciando desde favelados, até mauricinhos. Inteligentemente, fizeram do veneno da Indústria Cultural o seu antídoto, recusaram a mídia, as revistas, os jornais e os programa de TV, o mistério sobre o que pensavam, vestiam ou falavam transformou-se em dinheiro, para o grupo. Outros talentosos conuntos e MC´s aproveitaram a onda formada pelo grupo e, até hoje, surfam por aí, populares e de mãos dadas com a Indústria Cultural que um dia os esnobou.

Apesar da chacoalhada no mercado proporcionado pelos Racionias, o Rap, ao contrário do que acontece nos EUA, não alavancou. Apesar de definitivamente ter entrado para o mundo dos negócios, o ritmo ainda segue sendo visto com preconceito. “Macaca véia” a Indústria Cultural sabe que, apesar de não ter conseguido implacar o Rap da maneira que desejava, não pode dar as costas a uma manifestação musical tão presente no cotidiano dos jovens brasileiros, e por isso continua atenta ao que pode, ou não, vir a ser lucrativo dentro deste universo.

Logo depois do Rap, veio o Grafitti, que pelas mãos dos gêmeos Gustavo e Rodolfo tornou-se pop e lucrativo. Das ruas, ganhou as galerias, museus e a sala de umpunhado de jovens abonados. Hoje em dia não é raro vermos grafiteiros envolvidos em mega eventos como a SPFW e o Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1.

Na era da reprodutibilidade técnica, porém, muitas das produções “comerciais” reproduzidas por esses artistas são efêmeras, não passando de rabiscos sem significado algum, porém extremamente lucrativas para muitas as partes que, com sorte, desfrutam deste nicho de mercado. Criação de sprays específicos para Grafitti, revistas segmentadas e lojas com tintas importadas também integram esta industrialização que, se ainda não atingiu o seu ápice, é massiça e, ao contrário do Rap, conquistou prestígio entre as classes mais altas e os formadores de opinião.

Mais próximos da arte propriamente dita, o break, o rap e o grafitti dificilmente deixariam (ou deixarão) de ser abocanhados pela Indústria Cultural. Difícil é imaginar a contestada, pervertida, rebelde e marginal pixação integrando esse bolo. Mas por incrível que pareça (e pela forte atuação dos seus protagonistas), ela vem saindo da obscuridade das noites frias de São Paulo para as páginas de jornais e revistas, teses acadêmicas e documentários.

Mas se por um lado era difícil de imaginar que veríamos a pixação ser levada a sério por galeristas, por um conceituado fotgógrafo da Folha de São Paulo (a ponto do mesmo transformá-lo em documentário), ou mesmo pela Fundação Cartier, de Paris, que recentemente convidou um pixador de São Paulo para expor sua caligrafia nas paredes desta conceituada instituição, também estava mais do que óbvio que a esperta Indústria Cultural não deixaria escapar a oportunidade de transformar em mercadoria uma manifestação tão presente quanto água nas rodinhas adolescentes da capital.

Contudo, ao contrário das demais produções artísticas aqui citadas, a pixação não tem esse caráter exibicionista no que diz respeito a atrair a atenção de milhares de pessoas. O pixador quer dialogar com determinado público e ponto. Suas letras, inclusive, mal conseguem ser interpretadas pela grande maioria das pessoas.
Caso o pixador não tenha outros interesses a não ser subverter, ele não quer dar as caras nos jornais e tão pouco ser entrevistado pelo Zeca Camargo, no Fantástico. A adrenalina, a rebeldia (muitas vezes sem causa) os dedos manchados de tinta e os outros pixadores são suas únicas testemunhas.

Inteligente e bem assessorada, a Indústria Cultural pode até encontrar saídas para “vender” essa manifestação, mas não será para a anestesiada grande massa, como parece que ela está tentando fazer. As chances da lucrativa Indústria Cultural quebrar a cara, se continuar a oferecer o produto em larga escala (em mídias que tratam o segmento com desdenho) e a quem desconhece seus princípios e conceitos, são grandes.

Porque para o pixador, a massa deve ser corrida, pra parede ficar lisinha. Quanto mais mocosado melhor, e se quiser comprar, procure, consuma com os olhos e fale para o maior número possível de pessoas que “ele quebrou”.

Está aí mais um bom desafio para você, Indústria Cultural. Bom apetite!