Nasci exatamente às 8 horas e 57 minutos do dia 29 de maio de 1982, na cidade de São Caetano do Sul, em São Paulo, Estado com a maior economia do país, que já abrigou a capital federal e que depois do Rio de Janeiro, é a referência geográfica mais conhecida do Brasil no estrangeiro.
Filho de uma professora e de um militar, ambos descendentes de africanos e portugueses, nasci brasileiro na cor e no nome.
No mesmo ano que vim ao mundo, a seleção brasileira de futebol disputou a Copa da Espanha com uma das mais geniais equipes que o país já teve. Neste mesmo ano, a música brasileira perdeu o cantor, instrumentista e compositor Jackson do Pandeiro, conhecido como O Rei do Ritmo, que carregava no próprio nome a brasilidade do seu swingue, da sua cor e das suas músicas.
Foi também em 1982 que a talentosa cantora Elis Regina, branca por fora e negra por dentro, e uma das mais importantes intérpretes que o país já teve, nos deixou.
Todos estes importantes acontecimentos que sucederam o meu nascimento, além de outras centenas que vieram anos depois, entre eles o serviço militar, onde jurei defender a pátria, deveriam me estimular a ter orgulho de ser brasileiro, porém, 27 anos depois, não é este o sentimento que tenho hoje.
Pelo contrário. Estou desesperadamente à procura de um país pra chamar de meu. Não precisa ser um país de primeiro mundo, onde não existam moradores de rua ou onde a desigualdade social seja apenas um termo visto nos dicionários. Tão pouco quero um país sem sujeira nas ruas ou com políticos, pelo menos, honestos.
Meu real desejo é viver em um país onde seu verdadeiro passado seja reconhecido, valorizado e disseminado entre seus habitantes. Quero apenas poder acordar em um lugar que se orgulhe da sua história, e que a mesma, de preferência, seja de conhecimento de todos. Já que um país que ignora o seu passado, vive um falso presente e um futuro inserto, para não dizer nebuloso.
Essa procura repentina por uma nação para chamar de minha foi desencadeada na quinta-feira (07/05), quando ao foliar as páginas do caderno Cotidiano, da Folha de S. Paulo, uma notícia estampada no alto da página C3 me chamou (muito) a atenção.
O título da matéria era: “Governo financiará aula de cultura africana”. O texto dizia que o governo federal está com a intenção (já que a medida ainda não foi oficializada) de oferecer recursos extras a estados e municípios que se comprometerem a incluir no currículo escolar o tema da cultura e da história afro-brasileira.
Ainda de acordo com a matéria, o objetivo da medida é incentivar a adesão ao plano de implementação de uma lei de 2003, a número 10.639, que torna obrigatório nas redes de ensino o estudo da história africana e da participação dos negros na formação da sociedade brasileira.
A notícia, que mereceu relativo destaque no jornal, é triste e demonstra o quanto atrasado somos, e continuaremos a ser por longos e longos anos caso continuemos tentando diminuir a importância do negro na formação do Brasil.
O simples fato da União oferecer recursos extras para que estados e municípios incluam nas aulas do ensino fundamental e médio o óbvio da história do nosso país, ou seja, a verdade, é o mesmo que esconder da população a origem dos seus costumes, dos seus hábitos culturais, políticos e até mesmo geográficos.
Ignorar a importância histórica do negro na construção do nosso, ou melhor, do país, é preocupante, a tal ponto de me fazer repensar se realmente devo chamar este país de “meu”. Nunca pensei que chegaria a este ponto, mas tendo em vista tal descomprometimento, é o mínimo que posso fazer.
Ao mesmo tempo que a notícia evidencia a incompetência do Governo Federal, incapaz de se fazer cumprir uma lei, também revela o desinteresse de todo um modelo educacional (e político) com a verdade e com os fatos.
Essa descriminação histórica, aparentemente inofensiva, também é, indiretamente, a grande responsável por espalhar o racismo, por vezes invisível, entre os brasileiros.
Um país sem história e sem memória não é um país, é uma vítima.
Se a história dos meus antepassados e da minha família não é reconhecida, legitimada e tão pouco valorizada pelo país onde nasci, não posso, e não devo me identificar com ele.
Só quero um país pra chamar de meu!
Filho de uma professora e de um militar, ambos descendentes de africanos e portugueses, nasci brasileiro na cor e no nome.
No mesmo ano que vim ao mundo, a seleção brasileira de futebol disputou a Copa da Espanha com uma das mais geniais equipes que o país já teve. Neste mesmo ano, a música brasileira perdeu o cantor, instrumentista e compositor Jackson do Pandeiro, conhecido como O Rei do Ritmo, que carregava no próprio nome a brasilidade do seu swingue, da sua cor e das suas músicas.
Foi também em 1982 que a talentosa cantora Elis Regina, branca por fora e negra por dentro, e uma das mais importantes intérpretes que o país já teve, nos deixou.
Todos estes importantes acontecimentos que sucederam o meu nascimento, além de outras centenas que vieram anos depois, entre eles o serviço militar, onde jurei defender a pátria, deveriam me estimular a ter orgulho de ser brasileiro, porém, 27 anos depois, não é este o sentimento que tenho hoje.
Pelo contrário. Estou desesperadamente à procura de um país pra chamar de meu. Não precisa ser um país de primeiro mundo, onde não existam moradores de rua ou onde a desigualdade social seja apenas um termo visto nos dicionários. Tão pouco quero um país sem sujeira nas ruas ou com políticos, pelo menos, honestos.
Meu real desejo é viver em um país onde seu verdadeiro passado seja reconhecido, valorizado e disseminado entre seus habitantes. Quero apenas poder acordar em um lugar que se orgulhe da sua história, e que a mesma, de preferência, seja de conhecimento de todos. Já que um país que ignora o seu passado, vive um falso presente e um futuro inserto, para não dizer nebuloso.
Essa procura repentina por uma nação para chamar de minha foi desencadeada na quinta-feira (07/05), quando ao foliar as páginas do caderno Cotidiano, da Folha de S. Paulo, uma notícia estampada no alto da página C3 me chamou (muito) a atenção.
O título da matéria era: “Governo financiará aula de cultura africana”. O texto dizia que o governo federal está com a intenção (já que a medida ainda não foi oficializada) de oferecer recursos extras a estados e municípios que se comprometerem a incluir no currículo escolar o tema da cultura e da história afro-brasileira.
Ainda de acordo com a matéria, o objetivo da medida é incentivar a adesão ao plano de implementação de uma lei de 2003, a número 10.639, que torna obrigatório nas redes de ensino o estudo da história africana e da participação dos negros na formação da sociedade brasileira.
A notícia, que mereceu relativo destaque no jornal, é triste e demonstra o quanto atrasado somos, e continuaremos a ser por longos e longos anos caso continuemos tentando diminuir a importância do negro na formação do Brasil.
O simples fato da União oferecer recursos extras para que estados e municípios incluam nas aulas do ensino fundamental e médio o óbvio da história do nosso país, ou seja, a verdade, é o mesmo que esconder da população a origem dos seus costumes, dos seus hábitos culturais, políticos e até mesmo geográficos.
Ignorar a importância histórica do negro na construção do nosso, ou melhor, do país, é preocupante, a tal ponto de me fazer repensar se realmente devo chamar este país de “meu”. Nunca pensei que chegaria a este ponto, mas tendo em vista tal descomprometimento, é o mínimo que posso fazer.
Ao mesmo tempo que a notícia evidencia a incompetência do Governo Federal, incapaz de se fazer cumprir uma lei, também revela o desinteresse de todo um modelo educacional (e político) com a verdade e com os fatos.
Essa descriminação histórica, aparentemente inofensiva, também é, indiretamente, a grande responsável por espalhar o racismo, por vezes invisível, entre os brasileiros.
Um país sem história e sem memória não é um país, é uma vítima.
Se a história dos meus antepassados e da minha família não é reconhecida, legitimada e tão pouco valorizada pelo país onde nasci, não posso, e não devo me identificar com ele.
Só quero um país pra chamar de meu!