terça-feira, 5 de maio de 2009

NOVA VELHA SURPRESA


O primeiro domingo do mês de maio, dia 3, nasceu como todos os domingos do ano deveriam ser, ensolarados, tranquilos e preguiçosos. Tal beleza, seguida por um gostoso e incomum silêncio matinal, parecia premeditar que algo especial estaria por vir.

Logo nas primeiras horas da manhã, o sol brilhou irradiante no céu da cidade de São Paulo, como se estivesse declamando um poema aos seus moradores. Um pouco mais em baixo do sol, sustentando os arranha-céus da selva de pedra, o asfalto fervia. Não somente pela intensidade da estrela, mas pelo calor humano.

Afinal, fazendo companhia para o sol, milhares de pessoas perambulavam pelo centro da capital durante as derradeiras horas da 5º edição da Virada Cultural.

No meio da multidão (formada em sua maioria por jovens), alguns exibiam uma disposição comunal, pulamndo, dançando, gritando, bebendo e se divertindo como se não houvesse amanhã. Outros, por sua vez, desfilavam um semblante cansado, denunciando a noite mal dormida.
Ainda no início da tarde, minutos antes do relógio marcar 15 horas, era possível obsevar uma multidão caminhando lentamente em direção a avenida São João, onde logo mais subiria ao palco o grupo Novos Baianos.

O aguardado retorno da trupe, diga-se de passagem, especialmente encomendado para o evento, não ganhou (espantosamente) por parte da grande mídia, o merecido destaque (nem antes nem após o show) e acabou sobreposto por nomes "mais populares" como Marcelo Camelo, Maria Rita, e até mesmo Wando.

Em cima do palco, como era de se esperar, o que se viu foi a verdadeira e original representação da música popular brasileira, influenciada pela percussão marcante do forró, do samba, do frevo, das marchinhas e os acordes do rock n´roll, do choro e da bossa nova. Na platéia, as pessoas, muitas delas emocionadas, cantavam e aplaudiam a histórica apresentação em meio a arranha-céus e performances acrobáticas de bailarinos voadores.

Canções como Tinindo Trincando, Ziriguidum, Brasil Pandeiro, Com Qualquer Dois Mil Réis, A Menina Dança, Besta É Tú e Preta Pretinha, foram cantadas em coro pela multidão, formada em sua maioria por jovens. Foi a coroação e o reconhecimento de um dos mais importantes grupos brasileiros em território paulistano.

Influenciados pela contracultura e pela Tropicália, Os Novos Baianos representam o anarquismo, a rebeldia e a liberdade de pensamento e atitude defendidos nos anos 70. Essas características fascinam os jovens hipongos e esquerdistas de hoje. Eles tem balanço, swingue, ao mesmo tempo que conseguem ser pesados e criativos. Representam uma fase de extremo fôlego da música brasileira.

Assim como o vinho, o grupo demonstrou que o tempo, um fardo para muitos, fez bem para o amadurecimento dos Novos Baianos, que apesar dos longos anos de estrada, continuam novos, encantadores e atuais como nunca.