domingo, 5 de abril de 2009

Ponto pro Hood


Acordei cedo no sábadão (04). Além de uma responsa lá pelas 8h, logo depois tinha marcado um futebolzinho com uns irmãos, exatamente às 10h. E foi lá, no futebol, ou melhor, depois dele, que este post se desenrolou.

O cenário, o campo do Centro Desportivo e Comunitário (CDC) da Vila Arapuá, na Zona Sul da capital. Quebrada do graffitero Pifo e do rapper Rappin Hood.

Apesar de ficar um pouco escondido, próximo a divisa do Ipiranga com São Caetano do Sul, o campo da Vila Arapuá é bem famoso. Por lá costumam desfilar craques das antigas que reúnem-se para partidas de futebol regadas a muita carne, cerveja e pagode.

Não é difícil aparecer no CDC, principalmente nas manhãs de sábado e domingo, e dar de frente com o Rappin Hood. Nascido e criado no bairro, ele tem uma afinidade muito grande com o Clube

E neste sábado não foi diferente, quer dizer, a não ser pelo horário, já que o Hood apareceu por volta das 14h, logo depois que meu jogo acabou. Bastante querido naquela que é realmente a sua casa, Hood chegou, comprimentou todos e ficou próximo ao bar conversando com alguns amigos, entre eles eu.

Lá pelas tantas, durante nosso papo, já envoltos por uma aconchegante cortina de fumaça, Hood falou sobre sua saída do programa Manos e Mina: “Pó Nabor, vazei mano. Os caras quiserem impor uma parada. E pra mim isso não rola. Nos reunimos, eles falaram, eu escutei, depois que acabaram de falar, sai da sala e pedi as contas”, disse, resumidamente.

Na verdade, o que rolou foi que eles (cúpula da emissora) queriam dar uma cara mais branca para o programa, pelo menos nas palavras de Hood. Fazendo algumas alterações na formação da platéia, hoje composta por membros de ONGs, colégios municipais e representantes da periferia paulistana, comunidades e na programação de convidados. “Eles queriam trazer o Curumim, o Sepultura. Nada contra os caras. Respeito todos. Mas entra na favela e pergunta quem tem o CD do Curumim ou do Sepultura, vão aparecer meia dúzia. O público do programa é outro”, falou.

Para meu espanto, no domingo, ao pegar a Folha de São Paulo, uma nota dava a versão da TV Cultura para saída. Segundo a emissora, que escolheu o rapper Thayde para substituir o antigo apresentador, Hood saiu por não querer entrevistar o talentoso Curumim.

Após ouvir o Hood, acabei concordando com sua postura do tipo: “Ou é, ou não é”. Afinal, quem vai dar a cara a tapa, é ele, quem apresenta o programa é ele, e quem faz o role nas quebradas e recebe milhares de CDs, pedindo uma força, também é ele.

O Sepultura, o Curumim, assim como outros grupos e artistas que não transitam pelo rap, nem pelo samba, ou outro ritmo mais presente nas periferias brasileiras, possuem outros espaços na mídia, tanto na TV como no rádio, nas revistas e jornais, e não precisam do Manos e Minas para terem suas imagens divulgadas.

O Manos e Minas nasceu com o propósito de divulgar a cultura Hip Hop (Rap, Break, Graffitti e DJ) e também dar uma força para manifestações culturais presentes na periferia. Por isso, ao ver que a imposição da diretoria da TV estava se sobrepondo ao que fora combinado, Hood resolveu pedir as contas.

Muitos teriam outra atitude. Hood, que já chegou a ver estremecida sua relação com a favela que o despontou para a fama, o Heliópolis, agiu pelo certo e foi coerente com sua trajetória. A primeira vista, colocou o ideal à frente do bem material.

Ponto pra ele. Que o Thayde, pela história que possui, tenha mais sorte, não queime a coletividade alcançada até aqui, e que também não se deixe “vender” pelas imposições da TV Cultura, que apesar de ter a melhor programação da TV aberta brasileira, desta vez decepcionou.

O Manos e Minas foi uma importante conquista da juventude negra paulistana, em especial dos apreciadores da cultura Hip Hop. Que os meios não justifique os fins, e que as glórias alcançadas com o programa sejam divididas a quem de direito.