segunda-feira, 6 de abril de 2009

CHE, A ARTE NÃO IMITA A VIDA


Será que vemos, ouvimos e lemos o que somos? Ou seja, que os meios nada mais fazem do que tentar interpretar e refletir as ações da sociedade? Talvez. Pra mim, por mais que digam que a vida imite a arte, é quando a arte imita a vida, que podemos ter a dimensão de quão complexa é a trajetória dos seres humanos na terra.

Adaptar uma vida, principalmente as saboreadas intensamente, repleta de emoções, tristezas, glórias, conquistas e batalhas, e um filme, um livro ou qualquer que seja a estrutura utilizada, é difícil, ou melhor, muito difícil. Somente os talentosos conseguem tal proeza.

E isso é natural. Não falo apenas da vida de pessoas famosas, que por suas trajetórias alcançaram o reconhecimento público. Pessoas normais, com as quais cruzamos freqüentemente em nosso cotidiano, muitas vezes possuem peculiaridades dignas de um roteiro de cinema. Tenho conhecidos, alguns amigos inclusive, que, caso tivessem que resumir suas histórias em um filme, teriam suas realizações infinitamente reduzidas, já que uma ou duas horas seriam infinitamente incapazes de reproduzir suas histórias.

No recém lançado "El Argentino", que no Brasil ganhou o nome de "Che", a primeira de duas histórias que pretendem mostrar a vida do revolucionário Ernesto Che Guevara, o diretor americano Steven Soderbergh, esbarra neste problema. Tem nas mãos um produto extremamente rico, mas justamente em razão deste excesso de virtuosidade do personagem, Soderbergh acaba sendo engolido pela história de Che. Conclusão: Não consegue retratar nas telas a vida do polêmico guerrilheiro. Não é documental e tão pouco ficcional, fica em cima do muro, apresentando muito do que já sabemos.

Revolucionário, aventureiro, médico, fotógrafo, humano, Che tem sua vida de conquistas, batalhas e idealismo minimizada ao extremo no filme.

Apesar da boa atuação do ator porto-riquenho Benicio del Toro, que interpreta o guerrilheiro argentino, o filme peca em não conseguir, como já era de se esperar, contar a trajetória desta que foi uma das mais importantes figuras do século XX em todo o planeta.

Mas à de se dar um desconto. Afinal, como reproduzir a vida de um cara que ainda na sua juventude resolveu conhecer a América Latina em cima de uma moto, que durante essas viagens conheceu povoações indígenas, leprosários e interagiu com essa população, especialmente com os mais humildes, estudou medicina, foi repórter fotográfico, acompanhou in loco o surgimento do líder e amigo de Fidel Castro e que conquistou um país no braço?

Fui ao cinema com a expectativa de ver o que já havia lido em alguns livros e revistas, me decepcionei, não apenas pela qualidade do filme, mas principalmente por querer ver ali, na telona, o que só é possível de ser vivenciado.

A vida, na prática, com suas glórias e derrotas, é muito mais interessante. A arte não imita a vida, por mais que tente copiá-la.