domingo, 19 de abril de 2009

Arquitetando riscos. O fim é só o começo.


A Arquitetura, em sua concepção mais ampla, é uma arte. As mais variadas construções do mais longínquo tempo e espaço confirmam essa intitulação. Contudo, nem todos tem a sensibilidade ideal para observar tal fato. Eu mesmo, do alto da minha ignorância artística, demorei anos para perceber tal relação.

Esse complexo entendimento do que é arte, e o que não é, também pode ser observado no Graffite e na Pixação, que ao meu ver representam hoje, a mais legítima expressão artística das grandes cidades, principalmente por serem livres, gratuitas e originais.

Muitos discordam, e não observam na Pixação uma arte. Não julgo como certo ou errado quem pensa assim. Porém, não podemos esconder o fato de que a Pixação consolidou-se como uma manifestação cultural autêntica e que, por isso, deve ser respeitada pelo número de adeptos e pela capacidade que possui em dialogar com toda uma geração.

Minha pretensão ao reunir esses dois campos das artes, a Arquitetura e a Arte de Rua, não é compará-las, e sim analisar o forte grau de proximidade que existe entre as duas áreas.

Assim como no Graffite e na Pixação, a Arquitetura, pelo menos nos grandes centros, é uma expressão artística cujo fim é na verdade o meio. Ou seja, trata-se de uma obra (quase sempre) inacabada, apta a receber novas intervenções, já que mesmo depois de (aparentemente) concluída, ainda é modificada ora pela ação do tempo (leia-se sol, chuva, ventos e etc.), ora pelo próprio homem.

Esta “interferência”, que pode ser natural ou premeditada, que por vezes agride e por outras valoriza o produto, é capaz de transformar a arte por completo. Pra melhor ou pior.

Rachaduras, pinceladas, ou simplesmente a deterioração fruto, por exemplo, de raios solares, são apenas algumas das ações capazes de transformar e agregar valor a um agrupado de concreto e, muitas vezes, a partir daí, transformá-lo em obra de arte. Essa possibilidade, contudo, na imensa maioria das vezes passa desapercebida pelo processo de produção dos arquitetos. Mas deve sim, ser analisada e discutida.

Na outra extremidade, temos um grupo (grande) por vezes mal quisto por parte da sociedade (graffiteiros e pixadores) que se apropria dessa produção como base para suas interferências.

Tenho pintado relativamente bastante nos últimos 6 meses, e também conversado com muitos artistas cujo ateliê é a rua. Tenho escutado cada vez mais a preocupação destes com o aspecto arquitetônico do local que será utilizado como alicerce principal da criação.

Essa categoria de artistas, que se destacam não só pela arte que produzem, mas também, pelo desapego ao material, possuem, igualmente aos arquitetos, produções que ao meu ver são de domínio público e por isso tornam-se alvo constante da intervenção do tempo e do homem.

A composição, tempo, arquitetura e intervenção urbana (seja para o bem ou para o mal), vem se completando nas grandes cidades modernas. Essa união de estilos e linhas artísticas, além de possibilitar um resultado especialmente singular e harmônico, multiplicam as alternativas de diálogo entre a obra e o púbico.

A paisagem urbana deve ser urbana, livre e disposta a dividir sua riqueza e existência com o mundo moderno.

Vivemos, ainda, um misto de eras da informação e da divulgação, responsáveis pela estréia do termo poluição visual que, na sua essência, nada mais é do que o diálogo de duas expressões artísticas livres, fincadas no mundo contemporâneo, e que ao invés de simplesmente serem contestadas, devem ser entendidas como parte do processo evolutivo do cidadão, que há séculos, seja nas cavernas artesanais ou fora delas, já começava a dar as primeiras pinceladas na parede.

O desapego deve prevalecer nessa hora.