terça-feira, 27 de janeiro de 2009

CABRA SPE(R)TO


Encontrei o Paulo César Silva, ou melhor, o Speto, no domingo (25). Tinha acabado de pintar uns muros pela manha e resolvi chegar, ainda com as mãos sujas de tinta, na abertura da exposição em homenagem ao grafiteiro Alex Vallauri, que ia rolar no Museu Afro Brasil, no Parque do Ibirapuera.

O Speto, o Daniel Melim, o Nunca e o Onesto foram os artistas convidados para fazer a presa em uma das laterais do lado externo do Museu. Cada um fez um painel.

A abertura da expo tava marcada para as 13h, cheguei uns dez minutos mais cedo. O Speto tava sozinho, ou melhor, comprimentado um ou outro que se aproximava, enquanto observava a distancia os trabalhos produzidos pelo quarteto e a movimentação no parque.

Aproveitei a oportunidade, me aproximei e trocamos uma idéia.

Mal começamos a conversa e ele comentou indignado: “Você viu que pixaram o painel do Kobra?! Puta sacanagem! É um descarrego de frustração. É para se aparecer, só pode ser. Quem fez isso quer mídia. É como querer destruir seus ídolos para provar que você é mais do que eles”, falou, comentando sobre o painel pintado pelo artista Eduardo Kobra na av. 23 de maio, que por sinal já foi refeito.

Enquanto me apresentava um casal de amigos e um argentino que esta fazendo um documentário sobre grafite no Brasil, Speto foi falando um pouco dos seus trampos, expondo pontos de vista e colocando alguns pontos nos “is” em assuntos que rondam tanto as rodinhas de grafiteiros como a de pixadores da capital.

Alem de trabalho, falou da saudade da esposa, professora de yoga que esta estudando fora do país, e que foi homenageada por ele no painel pintado no Museu Afro Brasil.

Ate escrever este texto, conhecia muito pouco sobre o Speto. Basicamente já tinha visto algumas das suas ilustrações, um grafite ou outro e os trampos com O Rappa. Resolvi pesquisar um pouco sobre o seu role e descobri o que muitos já sabiam, o cara é talentoso.

Quanto a nossa conversa, Speto mostrou-se atencioso, bastante antenado as atualidades e muito dedicado no que faz.

O papo foi tiro rápido e totalmente informal. Como o material colhido não foi muito volumoso, também anexei ao texto alguns trechos de uma entrevista concedida pelo Speto ao repórter Emilio Fraia, do site Real Hip Hop, em julho de 2005.

Entre alhos e bugalhos, veja como ficou.


Nome
Paulo César Silva, SPETO

Idade
37 anos

Tempo de role
Desde 85

Inicio

Comecei como todos da minha geração,através do cinema. Dai foi um salto do skate para os muros.

Estilo

Hoje em dia fica até difícil classificar. Existe a tendência mais pop integrando o design gráfico. O Tradicional e o experimental, e os que estão mais para arte contemporânea. No meu trabalho incorporei a linguagem do cordel que sempre fui apaixonado por gravuras, acho um estilo muito marcante os entalhes em madeira. O preto e branco também é muito forte.

Formação

Sou absurdamente CDF, mas acho que a gente aprende mais vivendo do que em quatro paredes ou tantos outros muros. O que dá o estilo é a experiência de vida de cada um. A visão de cada artista. O Brasil é carente em ensino e estamos engatinhando. Não fiz nem colegial. A pessoa tem que aprender a ouvir e a saber questionar para aprender.

O Artista

Não quero ser visto como simplesmente ilustrador ou grafiteiro, acho que todas as mídias são importantes Sou uma pessoa que ama se expressar e gosto de mostrar o meu trabalho.

Sempre trabalhei muito e o trabalho força a gente a ser forte e perder os mimos de artista. Um profissional não fica esperando a inspiração chegar na mãozinha, a gente vai e faz. Isso faz a diferença. O mercado jovem é o mais lucrativo do mundo e nunca as artes visuais foram tão importantes como hoje. É uma oportunidade única de viver daquilo que gostamos de fazer.

Rótulos
Odeio rótulos. O grande mal dessas pessoas que destroem o trabalho como o do Kobra é querer rotular um trampo. É uma maneira de separar e dizer que você esta certo e o outro esta errado.Acho que independente da técnica utilizada, o trampo tem que ser avaliado como bom ou ruim, so isso.

Pintar no Museu
Foi uma puta responsa, por que alem de ser o Museu Afro, a arquitetura do prédio projetada pelo (Oscar) Niemyer. Foda!

Painel no Museu
Fiz um Ogum, que é o orixá guerreiro. Tem também a imagem da mulher, que por sinal é a minha, que transmite paixão. A criança a inocência. A igreja a mistura de religiões. O galo porque Ogum como galo.

Pixação
Não tenho nada contra. Já pixei, mas nunca me identifiquei muito. Na época que comecei a fazer uns grafites eram poucos os que pixavam.

Hoje
Tenho feito bastante ilustração e telas que vão para galerias. As vezes saio pra rua pra fazer uns grafites. Hoje em dia as mídias estão muito próximas. O que antes as pessoas viam como coisas opostas, hoje aprenderam a enxergar que na verdade são muito próximas.

Planos
Um dos meus objetivos é fazer trabalhos em conjunto com pessoas que tenho afinidade e que acompanham meu role há anos. Seria como um coletivo. Com trabalhos individuais e também com projetos em conjunto.

Ilustração

Já fiz trampos para a Fluir, Venice, Simples, Vip, Vogue RG, TRIP.

Musica
Trabalhei com os Raimundos, Charlie Brown Jr., Planet Hemp, Ira!, Nação Zumbi, Zé Gonzáles e O Rappa. Já expôs na Bienal de Arquitetura, fez animações para a MTV e mais de 80 shapes de skate.

O Rappa
O que mais tirei de exemplo durante o tempo que trabalhei com O Rappa foi o lance do contato com o publico. A química de uma intervenção em um show.
Tinha cerca de 1h30 para fazer o trampo e tudo era inspirador. Participei das turnês do Lado B Lado A, Instinto Coetivo e um período curto do Silencio que Precede o Esporro.

3D

Gosto muito e acho que as tendências e a moda são cartas(idéias) jogadas na mesa. Muitos artistas estudam e exploram essas idéias exaustivamente e aprendem com isso, ai vem outra idéia e todos dão a sua versão. Assim evoluímos.

Bomb

Eu não vejo a menor graça nisso, emoção eu prefiro a do esporte.

Envolvimento com o Hip Hop

A não ser pelo grafite, quase nada, sempre andei de skate (andava) e gostava

Rap Nacional

Gosto dos Djs Zé Gonzales, Nuts, Negralha, gosto do Instituto, Max B.O, Mamelo Sound Sytem, De leve, etc.

Inspiração

A vontade de fazer cada vez melhor.

Produto Nacional

Eu não fico achando que um é melhor que o outro, mas gosto dos trampos do Hebert (Baglione), Gêmeos, Nina, Viché, Binho, Titi Freak, Flip, Markão, Onesto, Boleta, Loucos.

Melhores Grafiteiros

Estão no Brasil

Considerações finais

Estamos todos no mesmo barco. Devemos ser sinceros, saber aproveitar o máximo cada momento, saber o que fazer da nossa vida, e saber que tudo é passageiro. O que importa é fazer amizades, viver o que fazemos, ter atitude, e não deixar nada pra depois. Pensar no agora e deixar o futuro para o amanhã.

Abraço para todos.



+ INFO:

www.speto.com.br


ps. Atualmente as telas do artista podem ser encontradas na Galeria Choque Cultural, em São Paulo.