quinta-feira, 3 de novembro de 2011

CRUZ E SOUSA


Lançamento da Selo Negro Edições celebra os 150 anos de nascimento de Cruz e Sousa, um dos maiores poetas brasileiros



Vanguardista, ousado, combativo. Esses são alguns dos adjetivos que bem descrevem a personalidade de João da Cruz e Sousa, poeta que recentemente passou pelas páginas da revista O MENELICK 2ATO na bem humorada entrevista Amor e Sexo segundo Cruz e Sousa (http://omenelicksegundoato.blogspot.com/2011/05/amor-e-sexo-segundo-cruz-e-sousa.html).


Nascido em 24 de novembro de 1861, ainda durante a vigência da escravidão, e falecido em 1898, neste mês de novembro celebram-se os 150 anos de seu nascimento. É com o objetivo de contar a história desse importante expoente da literatura brasileira que a jornalista Paola Prandini escreveu Cruz e Sousa (Selo Negro Edições, 136 páginas, R$ 22,00), oitavo volume da Coleção Retratos do Brasil Negro.

Nascido em Desterro (atual Florianópolis), o poeta teve uma infância pobre. O pai ainda era escravo quando ele nasceu. A mãe, que fora libertada por volta de 1870, trabalhava como doméstica na casa de um importante militar da cidade. Esse vínculo permitiu a Cruz e Sousa ter uma educação razoável, e desde a adolescência ele sonhava em ser poeta. Porém, concretizar tal sonho não seria nada fácil: a cor de sua pele acabou impedindo que ele ascendesse socialmente.

Depois de formado, Cruz e Sousa trabalhou como professor particular e vendedor, mas logo se aproximou do grupo literário Ideia Nova, que pretendia renovar as letras catarinenses. Nessa época, o poeta chegou a ser nomeado promotor público de Laguna, mas os poderosos da cidade impediram que ele assumisse o cargo – um negro nunca poderia exercer função tão importante.

Cruz e Sousa então se juntou à Companhia Dramática Julieta dos Santos, com a qual viajou por diversos estados brasileiros. Esse contato com os rincões do país influenciou sua produção literária e permitiu-lhe conhecer as mazelas do povo. Em 1885, foi efetivado como redator no jornal catarinense O Moleque. O foco do jornal era a crítica política, e mais uma vez Cruz e Sousa atraiu inimigos pelos comentários que fazia contra os medalhões da época. Depois da extinção de O Moleque, ele passou a trabalhar no Abolicionista, que, como o próprio nome diz, fazia campanha pela libertação dos escravos.

Em meados de 1888, depois da abolição da escravatura, Cruz e Sousa mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou em diversos jornais. Em 1892, publicou suas duas primeiras obras individuais, Missal (com poemas em prosa) e Broquéis (com poemas), mas infelizmente sua situação financeira continuou periclitante. Em novembro de 1893, o poeta casou-se com Gavita Rosa Gonçalves, seu grande amor, e foi trabalhar como arquivista na Estrada de Ferro Central do Brasil. Alguns meses depois, porém, Gavita começou a demonstrar sinais de demência, provavelmente por causa da situação precária em que ela e o marido viviam. Tiveram quatro filhos: os três primeiros faleceram de tuberculose; o último viveu apenas até os 15 anos.

Em 1897, acompanhado da esposa, Cruz e Sousa partiu para uma pequena cidade na Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais, para tentar se curar da tuberculose. No entanto, não resistiu e faleceu em 19 de março, aos 36 anos. Os amigos angariaram doações para ajudar a viúva.

Depois de sua morte outros títulos foram publicados: Evocações (poemas em prosa, 1898); Faróis (poesia, 1900); Últimos sonetos (poemas, 1905); e ainda O livro derradeiro (poesia, 1945). Em seus textos, são recorrentes alguns temas e recursos simbolistas – como o amor, o misticismo religioso, a sinestesia, os neologismos e a aliteração. Uma de suas maiores características, no entanto, é a crítica à opressão sofrida pelos negros. Entre seus textos mais fortes estão aqueles que repudiam a escravidão e denunciam a falta de oportunidade legadas aos afrodescendentes depois da abolição.

Nas décadas de 1950 e 1960, Cruz e Sousa sofreu perseguição inclemente de alguns críticos, que desqualificaram sua produção. Somente há alguns anos os especialistas resgataram as obras de Cruz e Sousa, conferindo-lhe o devido reconhecimento. “Foi principalmente póstuma a celebração do poeta, que deveria ter sido honrado ainda em vida, mas que, por ter nascido filho de escravos, ser negro e ter morrido na miséria, não obteve reconhecimento de sua grandeza em vida”, afirma Paola.

Ao resgatar a história de Cruz e Sousa, o livro faz um panorama histórico de sua época, reproduz o texto de cartas que ele enviou a amigos e compila toda a sua produção literária. Trata-se, portanto, de um retrato fiel de um dos nossos maiores escritores.


Paola Prandini é jornalista, mestranda em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), sócia-fundadora da consultoria AfroeducAÇÃO e integrante do Núcleo de Comunicação e Educação (NCE) da USP.



Cruz e Sousa
Autora: Paola Prandini
Editora: Selo Negro Edições
Coleção: Retratos do Brasil Negro
Preço: R$ 22,00
Páginas: 136 (12,5 x 17,5)


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Ana Paula Alencar
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