domingo, 27 de fevereiro de 2011

ENFIM UM "SPIKE LEE" TUPINIQUIM?

POR NABOR JR.
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Jéferson De
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Em uma de suas observações no livro “O Negro Brasileiro e o Cinema”, lançado em 2001, pela editora Pallas, o respeitado jornalista, crítico de cinema e pesquisador João Carlos Rodrigues, aponta a escassez, para não dizer a quase nula presença de negros atrás das câmeras como uma das principais razões para uma representação ainda carregada de estereótipos do negro brasileiro na cinematografia nacional.
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Porém, assim como os Estados Unidos demorou décadas para produzir um diretor da categoria de Spike Lee, Rodrigues acredita que o diretor afro-brasileiro “ideal”, com respeito aos excelentes Zózimo Bubul, Ari Cândido e Joel Zito Araújo, surgirá quando menos se esperar. “Arrisco a dizer que esse nosso primeiro grande cineasta negro brasileiro só chegará no seu tempo certo de gestação histórica. Não podemos pular etapas e fabricá-lo numa proveta”.
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Hoje, 10 anos depois, se a profecia ainda não foi concretizada, ao menos parece estar sendo sondada de perto. E o cineasta paulista Jéferson De é, no momento, quem parece mais próximo de unir as competências técnica e artística e a conscientização política para ocupar o posto de grande cineasta negro brasileiro da contemporaneidade.
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De proveta, ao menos, ele não surgiu. Pelo contrário, sua gestação está sendo longa e o pré-natal, digamos, muito bem feito. Já que apesar da pouca idade, 32 anos, soma uma década de serviços prestados a cinematografia nacional, entre bem avaliados curtas-metragens, como os filmes Distraída para a Morte, Carolina (com o qual foi agraciado com o prêmio “Kikito de Ouro”, no Festival de Gramado de 2003) e Narciso Rap, além de projetos independentes variados. “Tive o privilégio de trabalhar com a Regina Cazé, no Central da Periferia, pesquisando e dirigindo algumas coisas, na MTV fiz o seriado Vinte e poucos anos, como editor. Também passei pelo SBT e tal”.
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A maior parte do filme foi rodada no bairro do Capão Redondo, Zona Sul de São Paulo.
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Também contam pontos para o cineasta de origem humilde que durante toda a juventude estudou em escola pública e que formou-se em Cinema pela USP, a criação do manifesto Dogma da Feijoada (inspirado no grupo dinamarquês Dogma, que preconiza um cinema sem artificialismo), cujo objetivo é mudar culturalmente a maneira do cinema brasileiro retratar o negro (vejo na tabela os 10 mandamentos do movimento).
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Ainda visto como uma agradável revelação do cinema nacional, Jéferson De pode ter o nome consolidado como um grande cineasta no segundo semestre deste ano, quando estréia o seu primeiro longa-metragem Bróder, produzido pela Glaz Cinema, Barraco Forte, Columbia Pictures e Globo Filmes. “Broder foi meu primeiro roteiro de longa na minha vida. Nunca havia escrito um roteiro de longa. Tudo pra mim ta novo. Ir para o Festival internacional, como por exemplo como foi em Berlim. Estou aprendendo a lhe dar com a ansiedade”, diz.
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A expectativa da crítica brasileira com Bróder (que tem no elenco nomes como Caio Blat, Jonatham Haagensen e Cássia Kiss) é grande desde quando começou a ser produzido, em meados de 2007. Jéferson tem nas mãos uma excelente oportunidade cravar seu nome como o principal cineasta negro brasileiro da atualidade. Tudo depende do público, da imprensa e dele próprio, mas, independente do sucesso do filme (previsto para ser lançado na segunda quinzena de março), ele está no caminho certo.

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OS #7 MANDAMENTOS DO MANIFESTO DOGMA DA FEIJOADA
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- O filme tem de ser dirigido por um realizador negro brasileiro
- O protagonista deve ser negro
- A temática do filme tem de estar relacionada com a cultura negra brasileira
- O filme tem de ter um cronograma exequível. Filmes-urgentes
- Personagens estereotipados (negros ou não) estão proibidos
- O roteiro deverá privilegiar o negro comum brasileiro
- Super-heróis ou bandidos deverão ser evitados
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LEIA
Livro: O Negro Brasileiro e o Cinema
Autor: João Carlos Rodrigues
Editora: Pallas
3ª edição
Rio de Janeiro, 2001
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CLICK
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