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Pode ser difícil perceber o preconceito. Nenhum preconceituoso se vê como tal, pois o preconceito é sempre a um só tempo o fruto e a manifestação da ignorância. Uma experiência pessoal fez-me confrontar com a minha própria num acontecimento que considero fundador e epifânico, apesar de sua aparente banalidade.
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Eu já estava na faculdade e acreditava que o Brasil era um país livre de preconceito racial. Minha opinião era fundada no “fato” de sermos o país do futebol, do samba, do carnaval e de um povo “cordial”, como se dizia. Um dia numa discussão em sala de aula sobre o racismo, manifestei a opinião de que não havia racismo no país, pois éramos todos em geral pacíficos e bonzinhos uns com os outros. Aurélio, um amigo negro que eu adorava, me olhou espantado e perguntou: “Dila, quantos alunos negros você está vendo nessa sala de aula?” Ele era o único. Meu silêncio constrangido já era a resposta. Ele continuou: “Racismo é isso!”. A partir daí nunca mais tive dificuldade de entender a relação marxista entre práxis e ideologia. Compreendi que a verdade das idéias deveria ser atestada na própria vivência e realidade social.
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Muito mais tarde, só no ano passado, vim saber a respeito de um homem chamado Stephen Biko (1946-1977). Surpreendentemente ele não é tão conhecido como Mandela, mas suas idéias sim. “Consciência Negra”, “ação afirmativa” e a expressão “Black is beautiful” têm origem nos movimentos que Biko fundou, liderou e dos quais fez parte. Foi o cinema que me apresentou Biko em “Grito de Liberdade”, filme de 1987, dirigido por Richard Attenborough, com Denzel Washington no papel principal.
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No filme, Donald Woods (1933 – 2001), interpretado pelo ator Kevin Kline, é editor de um jornal progressista na Cidade do Cabo e denuncia a violência e a dominação dos brancos contra os negros, porém escreve editoriais contra Biko por entender que a idéia de “consciência negra” seria tão racista quanto a própria idéia de superioridade branca.
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Woods percebia claramente o preconceito de seu país. Mas, progressista que era, não poderia ser consciente do que restava em si mesmo do preconceito social. O filme é baseado no livro “Biko”, do próprio Woods, e conta seu envolvimento com o líder negro, o mundo que este lhe apresentara e, a partir daí, uma nova compreensão e vivência de sua realidade.
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Ao final, ficamos ainda sabendo que o governo da África do Sul aprovou, a partir de 1962, o aprisionamento sem julgamento, e alegou suicídio, doença, ou um acidente qualquer como causa mortis para seus presos políticos – incluindo Biko –, nunca, claro, o assassinato. Seria essa a história oficial, não fosse o engajamento de todos aqueles que não suportaram a mentira.
No filme, Donald Woods (1933 – 2001), interpretado pelo ator Kevin Kline, é editor de um jornal progressista na Cidade do Cabo e denuncia a violência e a dominação dos brancos contra os negros, porém escreve editoriais contra Biko por entender que a idéia de “consciência negra” seria tão racista quanto a própria idéia de superioridade branca.
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Woods percebia claramente o preconceito de seu país. Mas, progressista que era, não poderia ser consciente do que restava em si mesmo do preconceito social. O filme é baseado no livro “Biko”, do próprio Woods, e conta seu envolvimento com o líder negro, o mundo que este lhe apresentara e, a partir daí, uma nova compreensão e vivência de sua realidade.
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Ao final, ficamos ainda sabendo que o governo da África do Sul aprovou, a partir de 1962, o aprisionamento sem julgamento, e alegou suicídio, doença, ou um acidente qualquer como causa mortis para seus presos políticos – incluindo Biko –, nunca, claro, o assassinato. Seria essa a história oficial, não fosse o engajamento de todos aqueles que não suportaram a mentira.
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“O filme apresenta o meio social de Biko, a vida precária dos negros nos assentamentos,
a luta e a morte do líder negro um ano depois do massacre de Soweto, quando mais de 700 crianças foram
mortas e quatro mil ficaram feridas, tudo patrocinado pelo Estado Sul Africano. E como ele, Woods, foi obrigado
a fugir da África do Sul para garantir sua integridade e da sua família ao envolver-se com a defesa das idéias
anti-racistas de Biko e comprometer-se com a divulgação da verdade sobre os acontecimentos que cercaram sua morte”.
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Há um sentido universal na idéia de consciência negra de Biko: o sentido da consciência da verdade. Qual verdade? O perigo – e a vitória – da opressão ocorre quando o oprimido aceita esse lugar. É essa a lição de Biko. Não se pode aceitar a opressão. Pois ela começa na realidade social e instaurar-se também na consciência que os indivíduos tem de si mesmos. Por isso é preciso combatê-la desde dentro de nós próprios. Mas é nas ações que este combate à injustiça e à mentira faz-se realidade e, portanto, verdade.
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"O racismo não implica apenas a exclusão de uma raça por outra - ele sempre pressupõe que a exclusão se faz para fins de domininação", Steve Biko contra-argumento em relação ao que os brancos falam sobre o suposto racismo dos negros dirigido aos brancos".
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+ DILA
esporos.wordpress.com
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OUÇA
Música: Biko's kindred lament
Grupo: Steel Pulse
Álbum: Tribute to the martyrs
Ano: 1979
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ASSISTA
Filme: Um grito de liberdade (Cry Freedom)
Diretor: Richard Attenborough
Ano: 1987
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LEIA
Livro: BIKO
Autor: DONALD WOODS
Editora: Best Seller
Ano: 1987
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OUÇA
Música: Biko's kindred lament
Grupo: Steel Pulse
Álbum: Tribute to the martyrs
Ano: 1979
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Filme: Um grito de liberdade (Cry Freedom)
Diretor: Richard Attenborough
Ano: 1987
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Livro: BIKO
Autor: DONALD WOODS
Editora: Best Seller
Ano: 1987