Fotos MANDELACREW
Cronista de um tempo ruim
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“60% dos jovens de periferia sem antecedentes criminais já sofreram violência policial.
A cada 4 pessoas mortas pela polícia 3 são negras.
Nas universidades brasileiras apenas 2% dos alunos são negros.
A cada 4 horas um jovem negro morre violentamente em São Paulo”
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Quase 13 anos já se passaram desde o lançamento, em 1997, do clássico álbum “Sobrevivendo no Inferno”, do quarteto paulistano de rap Racionais MC´s. O disco – sem dúvida um dos mais significantes da história recente da música brasileira – nos brinda com um contundente manifesto sobre o estado de abandono, violência e exclusão étnico-social que assola as periferias tupiniquins e impede a ascensão econômica do nosso povo e, por consequência, o crescimento democrático do país. Trata-se do início da música “Capítulo 4, Versículo 3”, cujos versos abrem este texto.
Mais de uma década depois constatamos que os números, as ruas e os noticiários sensacionalistas do fim da tarde estão aí e não mentem. Tapar o sol com a peneira também não resolve. Ainda vivemos tempos ruins.
E o pior, no campo da cultura e da educação, a matemática excludente é a mesma. Dados recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que somente 13% dos brasileiros vão ao cinema pelo menos uma vez ao ano. A museus, 92% nunca foram, assim como 93,4% nunca estiveram em uma exposição de arte e 78% jamais assistiram a um espetáculo de dança. Mais de 90% dos municípios do país não têm salas de cinema, teatros, museus ou outros espaços culturais.
É essa triste realidade, somada a boas doses de Dostoievski, Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, que abastece e estimula a literatura marginal do escritor, cantor e compositor Reginaldo Ferreira da Silva, nacionalmente conhecido como Ferréz. Autor, entre outros, de livros como “Fortaleza da Desilusão” (1997), “Capão Pecado” (2000) e “Manual Prático do Ódio” (2003).
Em “Cronista de um tempo ruim”, seu mais recente livro, ele externa com detalhes as causas e consequências desse abismo social, étnico e sangrento que separa a periferia do centro.
Dividido em contos e crônicas, o livro traz um compilado de 21 textos, alguns deles publicados nas revistas Caros Amigos, Trip e nos jornais Folha de S. Paulo e Lê Monde Diplomatique Brasil. Com narrativa em primeira pessoa, Ferréz apresenta-se como protagonista e interlocutor de uma realidade que muitos não conhecem e, outros, talvez a imensa maioria, finge não conhecer. Para isso conta suas experiências como morador do Capão Redondo, bairro do extremo sul da cidade de São Paulo.
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O livro arde, queima, exala realismo e, assim como Ferréz já fizera anteriormente em outras obras, aponta os culpados pela pobreza e violência desenfreada que persegue os moradores das periferias de São Paulo.
Não faltam críticas (tão pouco ameaças - “Paz só a quem merece. E aos que não, Guerra” - diz ele na introdução do livro), à cidade, aos políticos, à polícia, às novelas, à imprensa e a todos que integram o sistema dominante que, segundo Ferréz deixa transparecer, é formado por pessoas e movimentos que não veem com bons olhos a ascensão social e econômica dos mais pobres.
“Cronista de um tempo ruim” destila ódio, raiva e realismo contra a forma como o Brasil é administrado por suas autoridades, evidenciado em textos como:
Mas também é otimista ao apontar a leitura, a educação, as ações afirmativas e a transformação política do povo como uma saída.
Ferréz peca, porém, ao eximir, ou, no mínimo, acobertar, o povo que defende. Afinal, na democracia, nossos representantes, por piores que sejam, são eleitos. A televisão não liga sozinha. Greves, protestos, reivindicações e a formação de organizações sociais são livres. Quem vai por a mão na massa?
Livro-manifesto, “Cronista de Um Tempo Ruim” reúne relatos escritos por quem conhece e vive a história que se propõe a contar. O problema talvez seja que seu público alvo – os moradores da periferia - já não tenha tanta paciência para ler o que já estão cansados de vivenciar.
Saídas? São poucas. Afinal, somos todos culpados. Mas as eleições estão aí e o primeiro passo pode ser dado agora.
Não faltam críticas (tão pouco ameaças - “Paz só a quem merece. E aos que não, Guerra” - diz ele na introdução do livro), à cidade, aos políticos, à polícia, às novelas, à imprensa e a todos que integram o sistema dominante que, segundo Ferréz deixa transparecer, é formado por pessoas e movimentos que não veem com bons olhos a ascensão social e econômica dos mais pobres.
“Cronista de um tempo ruim” destila ódio, raiva e realismo contra a forma como o Brasil é administrado por suas autoridades, evidenciado em textos como:
Mas também é otimista ao apontar a leitura, a educação, as ações afirmativas e a transformação política do povo como uma saída.
Ferréz peca, porém, ao eximir, ou, no mínimo, acobertar, o povo que defende. Afinal, na democracia, nossos representantes, por piores que sejam, são eleitos. A televisão não liga sozinha. Greves, protestos, reivindicações e a formação de organizações sociais são livres. Quem vai por a mão na massa?
Livro-manifesto, “Cronista de Um Tempo Ruim” reúne relatos escritos por quem conhece e vive a história que se propõe a contar. O problema talvez seja que seu público alvo – os moradores da periferia - já não tenha tanta paciência para ler o que já estão cansados de vivenciar.
Saídas? São poucas. Afinal, somos todos culpados. Mas as eleições estão aí e o primeiro passo pode ser dado agora.
LEIA
Livro: Cronista de Um Tempo Ruim
Autor: Ferréz
Editora: Selo Povo
2009
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Livro: Sentimento do Mundo
Autor: Carlos Drummond de Andrade
Editora: Record
1935
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ferrez.blogspot.com
selopovo.blogspot.com