sábado, 16 de outubro de 2010

Maria

Por Nabor Jr.
Fotos Paola Vianna (www.paolavianna.com.br)

Luz, desejo e sensualidade


MARIA

Onde vais à tardezinha,
Mucama tão bonitinha,
Morena flor do sertão?
A grama um beijo te furta
Por baixo da saia curta,
Que a perna te esconde em vão...

Mimosa flor das escravas!
O bando das rolas bravas
Voou com medo de ti!...
Levas hoje algum segredo...
Pois te voltaste com medo
Ao grito do bem-te-vi!

Serão amores deveras?
Ah! Quem dessas primaveras
Pudesse a flor apanhar!
E contigo, ao tom d'aragem,
Sonhar na rede selvagem...
À sombra do azul palmar!

Bem feliz quem na viola
Te ouvisse a moda espanhola
Da lua ao frouxo clarão...
Com a luz dos astros — por círios,
Por leito — um leito de lírios...
E por tenda — a solidão!
Castro Alves
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Convidada para retratar por meio de imagens o poema “Maria”, do livro “A Cachoeira de Paulo Afonso” (compilação de poemas do poeta Castro Alves), a fotógrafa paulistana Paola Vianna, assim como Alves, artesão das palavras e principal expoente da terceira geração da poesia romântica brasileira, também procurou transformar a realidade e questioná-la em profundidade. Afinal, quem és tu Maria?

Da ousadia de Vianna emanou luz e sobriedade. Do poema, sensualidade, desejo e discrição. É o prenúncio do realismo pelos olhos e lentes de quem flerta com o pós-humano.
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O poeta dos escravos
Por seu entusiasmo frente as causas de liberdade e justiça (acima de tudo contra a escravidão), o baiano Antônio Frederico de Castro Alves, talvez o maior poeta romântico que o país já conheceu, ficou conhecido como o “Poeta dos Escravos”.

Nasceu em 14 de março de 1847, na Vila de Curralinho, na Bahia. Faleceu em Salvador, no dia 6 de julho de 1871.

Sua obra poética pode ser subdividida em duas vertentes: lírico-amorosa e poesia social, através da qual conseguiu despertar um espírito crítico diante das consciências que notadamente desejavam o fim da escravatura.
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O livro “A Cachoeira de Paulo Afonso” foi publicado em 1876, cinco anos após o falecimento de Castro Alves. A obra é composta por 33 poemas que, no conjunto, constituem uma sequência narrativa, mas que também podem ser lidos separadamente.
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“Castro Alves estendeu sobre o negro o manto redentor da poesia, tratando-o como herói, como ser integralmente humano”.
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O poeta foi muito influenciado por Vítor Hugo, o escritor francês autor de “Os Miseráveis”, cuja temática de sua obra representou a metáfora do pássaro Condor, uma ave que habita as montanhas dos Andes, de hábitos solitários, capaz de enxergar longas distâncias, simbolizando o caminho da justiça e da liberdade.
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LEIA
Aspectos da literatura brasileira
Autor: Mário de Andrade
1972

Poesia e oratória em Castro Alves
Antônio Cândido
2009
Poesia lírico-amorosa
conserva resquícios do subjetivismo cultuado pelos poetas da segunda geração, contudo, a figura da mulher já não é mais idealizada, intocável, e sim vista por um plano mais realista, resultante de um amor materializado.
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Poesia social
denúncia e insatisfação frente ao cenário político da época, mais precisamente da escravidão brasileira.
ASSISTA
Castro Alves – Retrato falado do poeta
Diretor: Silvio Tendler
1999
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Fotos: Paola Vianna
Modelo: Xênia França
Estilista & Stylist: Priscilla Young
Make up & Hair: Clovis Pedroso
Ass. Fotografia: Thais Jatene
Making Off: Daniel Bernadinelli