domingo, 3 de janeiro de 2010

Sask: São Paulo, Brasil!

Não é de hoje que pixação, ovelha negra da família das primeiras caligrafias rupestres de que temos notícia, ganhou o mundo. Todas as grandes metrópoles do planeta, assim como muitas médias e pequenas cidades também, exibem em seus muros, janelas e vagoes, garranchos e desenhos coloridos, esteticamente agressivos e na sua maioria incompreensíveis e invisíveis ao grande publico.

Praticado há quase 40 anos, o movimento desfruta hoje do patamar de vanguarda. Muitos artistas contemporâneos que hoje exibem suas pinturas em famosas galerias e até mesmo em conceituados museus, deram os seus primeiros passos dentro da arte através do graffiti ou da pixação. O inglês Bansky e os brasileiros dos Gêmeos são exemplos disso.

Seja qual for o dialeto, as inscrições que procuram ocupar os vazios que a arquitetura das grandes cidades não cansa de desenhar, dialogam com seus pares. Ou seja, quem integra o movimento compreende as formas e os códigos exibidos nas paredes mundo a fora. Para muitos, essa característica, que esnoba o olhar comum, é um dos grandes trunfos desta arte marginal que a cada ano angaria novos seguidores.



Na Europa não é diferente. Madri, Paris, Londres, Berlim, e outras grandes capitais também possuem seus neocaligrafistas. E foi andando pelas ruas de Le Mans, na França, que conheci um
brasileiro que há pouco mais de um ano e meio vive em Madri, na Espanha, espalhando seus rabiscos pelas ruas da cidade.

Conhecido no Brasil como Sask, o jovem Alexandre Sasaki, paulistano de 20 anos de idade e que, há um ano e dois meses na Europa, divide seu tempo entre o trabalho na noite madrilenha e a pixação, que conheceu aos 16 anos, na Vila Mariana, bairro onde nasceu e cresceu.

Nesta entrevista, concedida durante um passeio turístico que o pixador e ex-atleta profissional de Handball fazia pela França, Sask falou um pouco da realidade de um pixador sul-americano no velho continente.

Em primeiro lugar, você é um pixador ou grafiteiro?
Faço os dois. Curto a estética do graffiti e a atitude da pixação, mas uma coisa eu não me considero, artista.

Porque veio morar na Europa?
Vim pela possibilidade de conhecer um novo mundo. Vim porque quis, porque achei que era a hora certa. Ter novas experiências, conhecer pessoas e lugares.

Como foi o primeiro dia em que você saiu para pintar na Espanha?
No meu primeiro dia em Madri descobri onde comprar as tintas, no segundo dia já sai para pintar um vagão de trem, na estação de Pitis. Os guardas vieram atrás da gente, corri muito – estava com mais dois espanhóis que conheci comprando as tintas – Neste mesmo dia pintei no
Metro, em um vagão que estava na estação Cuatro Caminos. Tive que correr muito também. O guarda da estação viu a gente e não teve jeito. Mas não nos pegaram.

No meu terceiro dia na Espanha escalei um prédio por fora, no centro de Madri, em frente a loja de tintas. Pixei entre as janelas do primeiro andar.

Já pintei muito por aqui nesses 14 meses. Nunca fui pego, mas já corri muito também.

É mais difícil pintar aqui ou no Brasil?
A dificuldade existe nos dois lugares, cada um a sua maneira. No Brasil é difícil pintar na linha da CPTM e no Metro. Aqui não, a cultura dos europeus é justamente pintar na linha. Por outro lado,
pintar na rua aqui é mais difícil. Na Europa, ao contrário do Brasil, não existe diferença entre graffiti e pixação. Aqui tudo é vandalismo.
Pintar na rua é crime e acabou. Já no Brasil, um trabalho bonito, feito na rua, mesmo que ilegal, pode ser visto com bons olhos.

Qual a diferença estética do graffiti e da pixação feita em São Paulo e em Madri?
Muitas e poucas ao mesmo tempo. As letras do graffiti são meio que universais. Geralmente ilegíveis, gordas e preenchidas, as vezes com muita outras com pouca cor. Isso acontece no mundo todo, é uma linha seguida pela maioria dos grafiteiros e que foi criada nos Estados
Unidos.

Já a pixação não existe aqui, é um fenômeno brasileiro. Por isso que as pessoas na Europa ficam impressionadas com as letras espalhadas pelas ruas de São Paulo, os prédios que os caras pintam e tudo mais. Da mesma maneira que nós, brasileiros, ficamos impressionados com as pinturas que eles fazem nos vagoes de trem e metro.

É alvo de muito preconceito por pixar?
Sim, na Europa especialmente. Aqui é feio você falar que é um pixador ou um grafiteiro, você é visto como um marginal. No Brasil, um grafiteiro, por exemplo, é mais aceito pela sociedade. Até namorada você arruma falando que é grafiteiro.

Quando pretende voltar?
Quero completar dois anos aqui, ainda faltam dez meses. Depois volto pro Brasil, mas não sei se para ficar, talvez seja apenas uma visita. Viver aqui é melhor. Além disso, quero pintar em umas cidades por aí, na Itália, na Alemanha quem sabe.

Um recado para os brasileiros que pretendem universalizar seus rabiscos pela Europa?
Fiquem atentos. A Europa não é o Brasil, a polícia aqui funciona.


+ INFO
www.fotolog/bitucas

+ INFO sobre o início dos movimentos de graffiti e pixação nos
Estados Unidos podem ser encontradas no livro
“Subway Art”, da escritora
Martha Cooper.