quinta-feira, 23 de abril de 2009

... sou muito mais a riqueza cultural das ruas, com suas transgressões e fôlego contestador....


Plural, coletivo, democrático, infinito e livre, são apenas alguns dos adjetivos usados a torto e a direito por centenas de pessoas que se atrevem a definir como deve ser o consumo da arte nos dias de hoje.

Porém, se na tela a vida é bela, na prática, a teoria se esfarela, formando um verdadeiro abismo entre o real e o conceito de ideal.

Na terça-feira (21), estive no MASP (Museu de Artes de São Paulo), para conferir a 17ª edição da Coleção Pirelli / MASP de Fotografia, e pude mais uma vez constatar esta disparidade.

Logo que cheguei ao Museu, por volta das 16h, notei uma intensa movimentação no famosos vão livre do Masp, enquanto uma pequena fila com cerca de 10 pessoas aguardava ansiosa a chegada dos elevadores que dão acesso a exposição. Lá em cima, homens, mulheres, jovens, adultos e idosos circulavam pelos corredores do museu, a maioria admirada com os belos registros da mostra.

Assim como grande parte das pessoas que ali estavam, também aproveitei a oportunidade da entrada gratuita (já que entre os dias 14 e 23 de abril o espaço ficou aberto para visitação com entrada franca em razão da montagem da próxima exposição que ocupará o segundo andar do MASP) para apreciar a famosa mostra fotográfica.

A arquitetura do Masp, sua disposição interna e externa, o acervo, as exposições, enfim, trata-se de um belo caldo de cultura ocidental que invariavelmente agrada seus visitantes. Ali dentro (o até mesmo ali fora) tudo é motivo para pensar, discutir, duvidar, questionar e admirar. Porém, este privilégio de ter mesmo que por poucas horas ou minutos os sentidos aguçados pela manifestação de um artista, é restrito.

E a explicação é simples, para visitar o Masp, uma das mais importantes instituições culturais brasileiras e autoproclamada sem fins lucrativos, o visitante deve desembolsar R$15. Sem choro nem vela. A não ser que role uma carteirinha de estudante e tal.

Este valor não só torna inviável a visitação de milhares de pessoas como também acaba por elitizar algo extremamente democrático e livre como são, ou pelo menos deveriam ser, os Museus e grande parte das produções artísticas. O cinema e o teatro padecem do mesmo mal ao esnobarem a renda média do trabalhador brasileiro, que por sua vez é cada vez mais estimulado a ficar em frente a uma televisão para consumir arte.

Uma vez ao ser questionada sobre o que pensava sobre os museus, a arquitetura modernista ítalo-brasileira Lina Bo Bardi, responsável pelo projeto arquitetônico da sede do próprio Masp, disse: “Os museus novos devem abrir suas portas, deixar entrar o ar puro, a luz nova”.

Mas a profecia não vingou. Pelo contrário, afastou ainda mais a população dos Museus, principalmente os jovens, e conseqüentemente do questionamento.

Por isso, sou muito mais a riqueza cultural das ruas, com suas transgressões, fôlego contestador, livres, gratuitas e democráticas. Os Museus, bom, se esses ainda insistem em serem lugares conservadores onde intelectualóides desfilam seus abonados passos, é melhor que fiquem no passado mesmo.