quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Aprendam a fazer perguntas!


Os óculos estilo vovó, a barriga saliente e os olhos esbugalhados lembram (e muito) a fisionomia do rapper B. Negão, com algumas poucas décadas a mais, é verdade.
De calça jeans, meias listradas e camisa pólo bege, o simpático senhor subiu ao palco do teatro do SESC Ipiranga na noite de quarta-feira (18/02) para mais uma rodada de bate-papo. Na platéia, cerca de 30 pessoas esperavam ansiosas para ouvir as suas palavras.

Logo que sentou-se na cadeira, tomou um gole de água a começou a disparar detalhes sobre a vida e a obra da cantora e atriz Carmen Miranda. Personagem de rara importância para o desenvolvimento do cenário artístico nacional e motivo ao qual ele fora convidado para estar ali.
A pessoa em questão é o jornalista e biógrafo Ruy Castro, um dos mais respeitados escritores da atualidade. Autor das biografias de Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda, está lançada a cinco anos, Ruy foi convidado pelo SESC para falar um pouco sobre o livro, já que este ano algumas dezenas de eventos e homenagens a rainha dos balangãndas serão realizados no país.
Para variar, Ruy Castro deu um show, e enquanto esteve no palco esclareceu inúmeros questionamentos a cerca de vida artista no Brasil e nos EUA. Pesquisador de mão cheia, o escritor contou detalhes da produção do livro e da vida da personagem. Pagou até de Nelson Rubens ao falar de uma ou outra aventura amorosa de Carmen. No total, foram cinco anos produzindo o material e mais de 100 entrevistas feitas com pessoas que conviveram com Carmen Miranda nos tempos em que a estrela viveu no Brasil, até por volta de 1949, aos 30 anos.
A conversa durou quase duas horas. Depois, pacientemente, Ruy atendeu aos fãs, distribuiu autógrafos e fez dedicatórias em livros.
Como na segunda-feira (16) foi o dia do Repórter, ofício que Castro desempenhou (e continua desempenhando) com muita precisão, assim que tive uma brecha, perguntei a ele o que ele falaria para os repórteres de hoje em dia, a resposta foi curta, grossa e direta: “Aprendam a fazer perguntas”, disse.
Devo admitir que a carapuça serviu em mim também, mas deve, principalmente, servir de exemplo as baciadas de jovens jornalistas que se formam todos os anos nas universidades brasileiras.
A contestada graduação em jornalismo é na enorme maioria das vezes fraca. Que o diga a eterna discussão sobre a obrigatoriedade do nosso diploma. A preparação deve ser constante.
Glamour, só no cinema meu chapa. A realidade é dura e cruel. Que o diga Ruy Castro, e a bacia de formol que mergulhou para falar sobre Carmen.
Hasta