quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

6 ponto 8. Enxuto!


Apesar de ter nascido, crescido e ainda viver em São Paulo, selva de pedra miscigenada (no mais amplo sentido da palavra) até o caroço, mas que possui uma juventude – ou a maior parte dela - descaradamente impulsionada por ritmos urbanos (como o rock, o rap, o funk por aí vai), meus ouvidos foram muitos generosos comigo e, sem pré-conceitos, acabaram me atraindo para outras interessantes sonoridades.
Lógico, com a influência de um amigo aqui, um tio acolá.

O Forró foi uma delas. Em pouco tempo, graças a algumas influências que tive logo após ingressar na faculdade, minhas incursões por discografias de nomes como Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Humberto Teixeira, Gordurinha, João do Vale e Trio Nordestino, acompanhadas de festas regadas a muito xote, baião, xiboquinha e mulher bonita, tornaram-se mais freqüentes e me fizeram apreciar (e muito) o ritmo. Quando me dei conta estava em cima de um palco, abraçado por uma zabumba e tocando sucessos do cancioneiro nordestino.

Devo admitir que, apesar dos milhares de quilômetros de distancia do nordeste brasileiro, me apaixonei pela sintonia sonora entre a sanfona, o triângulo e a zabumba (a essência do Forró Pé de Serra), e a riqueza das letras que descrevem o cotidiano nordestino.

Foi o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, antes mesmo do som fulminante do mangbeat de Chico Sciense, quem me abriu os olhos para a música regional brasileira, especialmente a nordestina.

No começo deste ano, já afastado alguns meses das umbigadas, resolvi, acompanhado por alguns amigos, dar as caras no Forró Secreto, festa quinzenal que acontece na Aldeia Turiassu, em Perdizes.

Para entrar no salão é necessário que os interessados sejam previamente convidados. Ou seja, apenas entram pessoas que tenham o nome na bendita lista. Daí o nome Forró Secreto.

Porém, de secreta a balada não tem nada, afinal, os anos se passaram, muitos já a conhecem e sabem das artimanhas para participar da umbigada chique.

Já fui algumas vezes na festa. Atualmente acredito que seja a melhor festa de forró da capital. Gente bonita, local agradável e bons trios fazem do Secreto uma festa animada e charmosa.

Na quinta-feira (05/02), quem deu as caras na festa foi o velho e bom José Domingos de Morais, o Dominguinhos, que aproveitou passagem pela Aldeia Turiassu para iniciar as comemorações do seu 68º aniversário, oficialmente comemorado no dia 12, no Canto da Ema.

Acompanhado de um zabumbeiro, um baixista, um trianguleiro e do amigo pandeirista Fúba de Taperoá, Dominguinhos deitou e rolou no palco da Aldeia Turiassu. Sentado em uma cadeira simples, como aquelas de cozinha e com a tradicional boina escondendo o ralo cabelo, Dominguinhos deu uma aula de forró, cantou seus grandes sucessos e mostrou, mais uma vez, porque é tão requisitado pelos melhores músicos do país.

Sua sanfoninha de 120 baixos gritou alto e fez todo o salão sacudir.

Suas músicas, sua voz nordestina, o swingue do seu show, enfim, tudo no artista tem melodia. Sua performance se assemelha a apresentação de um bom trio, contudo, com mais requinte.

Sujeito de hábitos simples e dono de uma brilhante trajetória dentro da música popular brasileira, Dominguinhos cantou e tocou por quase duas horas.

Discípulo de Luiz Gonzaga, Dominguinhos, meio branco, meio negro, meio índio, sem dúvida já escreveu o seu nome no hall dos grandes músicos brasileiros. Extremamente versátil, além do forró, perambula com facilidade por ritmos como blues e o jazz. Enfim, gostei do que vi, ouvi e curti.

Como dizia Luiz Gonzaga, Dominguinhos tá enxuto!