quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Zé, Zezinho, Zezão - A versatilidade de José Augusto Capela















Conhecido por ser desconhecido (ao menos do grande publico), e também pela mistura de azul claro com azul escuro característico de seus traços voadores e milimetricamente bem ajustados aos mais deteriorados ambientes da cidade de São Paulo, José Augusto Capela, ou simplesmente Zezão, é da véia, como dizem por ai.

Com quase 15 anos de role, esse paulistano bem articulado, com dezenas de tatuagens espalhadas pelo corpo e reconhecidamente autêntico, se rotula como um cara....sem rótulos. “Gosto de fazer de tudo um pouco”, costuma dizer.

Bem sucedido em suas empreitadas artísticas, tanto na rua como nas galerias, Zezão me concedeu uma entrevista na tarde de segunda-feira (08). Com a exposição “Zezão o Fotógrafo”, em cartaz na Galeria Choque Cultural e outras dezenas afazeres, Zezão preferiu o contato por telefone. Não titubiei, e fiz a conexão zero 11 ABC/ Zona Norte.

Abaixo seguem os principais trechos do nosso papo.

NOME
José Augusto Capela

QUEBRADA
Zona Norte/ São Paulo

IDADE
37 anos

TEMPO DE ROLE
Em 2009 completo 15 anos de carreira


ZEZAO, O FOTOGRAFO
Costumo registrar meus roles desde 95. É uma maneira de imortalizar meus trampos, já que, diferentemente das galerias, na rua, os desenhos estão desprotegidos. É uma prática normal entre os grafiteiros fazer isso.

RELACAO COM A FOTOGRAFIA
De uns cinco anos para cá, passei me interessar mais por fotografia, e a ter uma sensibilidade maior. Passei a estudar mais e a me preocupar com toda a composição da foto. Comecei a ter uma visão mais fina da cidade e da fotografia.
Também peguei o gosto por fotografar outras coisas que acho interessantes, como pessoas, paisagens e por aí vai. Estou até montando um álbum com esses assuntos no meu flickr.
De uns tempos para cá venho fotografando a deterioração natural do meu trabalho. Como as ações da chuva, do sol, as fogueiras que os mendingos fazem e que acabam escurecendo a parede.
Acredito que de uma maneira ou de outra, essa deterioração, essa mudança estética, é uma extensão do meu trabalho.

É A PRIMEIRA VEZ QUE EXPOE SEUS REGISTROS
Não. Fiz a primeira expo na (Galeria) Fortes Vilaça, em 2006. Depois, em 2007, a convite da Roseli Nakagawa, expus 30 fotos na FNAC da avenida Paulista. Posteriormente a exposição se tornou itinerante e rodou por diversas unidades da FNAC do país.
Nesta exposição que esta em cartaz na Choque Cultural, criei duas ambientações. São instalações que tentam estreitar ainda mais a relação entre a rua e a galeria.

VERSATILIDADE
Alem dos grafites, hoje faço fotos, vídeos, vídeo-instalações, já fiz dois documentários sobre o meu trampo (O Desafio de Zezão – e No Traço do Invisível).
Minha primeira vídeo-instalação aconteceu no Itaú Cultural, em São Paulo, na mostra “Quase Líquido”, onde expus um vídeo totalmente desenvolvido por mim. Assim como o vídeo que esta em exposição na Choque Cultural.

ROLES
Como pintor, tenho este lance mais popular que é o Flop (desenho azul), que é o trampo que faço e que as pessoas estão mais acostumadas a ver e a me identificar.
Porém, também tenho um trabalho mais colorido, que inclusive pode ser visto no Beco do Batman, na Vila Madalena.
O Flop é mais uma assinatura, algo que consigo fazer até seis em único dia.

ROTINA
Gosto de variar as linguagens e a maneira de me expressar até mesmo para não entrar em uma produção rotineira. As vezes pinto em lugares subterrâneos, abandonados, mas também gosto de fazer trabalhos nas ruas. Busco sempre a evolução do meu trabalho.

RUA X GALERIA
Tenho uma relação com a rua desde o início do meu trabalho.
A galeria, ao meu entender, é meio que o Feedback do role na rua. É o reconhecimento da nossa arte. São muitos anos de militância, batendo de frente e defendendo a rua.
Na Galeria você usa um pincel, uma tinta acrílica, é um terreno novo para mim, e fértil também. Quero evoluir muito ainda.

Grafite na rua é uma coisa. Trampo na Galeria é outra totalmente diferente.
É bem difícil levar a arte para um cubo branco.
Tenho estudado bastante para me inserir de uma maneira que me agrade dentro das galerias.
Quero chegar o mais próximo possível do que faço nas ruas.

DIN DIN
Antes equilibrava a renda com freelas, com palestras, cenografia, oficinas, workshops. Hoje posso escolher o que quero fazer.
Já fiz trampos comerciais para a Nike, Skol, Mc Donalds.
Mas ultimamente tenho fugido um pouco de trabalhos comerciais (brifados). Não que esteja recusando, se aprovarem meu orçamento, faço, sem problemas. Mas tenho me dedicado mais aos meus trampos nas galerias e aos meus roles.

CARREIRA INTERNACIONAL
Os Gêmeos foram que abriram o mercado para os artistas de rua aqui no Brasil. Respeito muito o trampo deles. O livro Grafite Brasil (Lost Art) lançado em Londres, também ajudou a alavancar o processo. Além da Internet. Assim o mundo passou a descobrir artistas brasileiros.
Comigo não foi diferente. Hoje, muito em razão desses exemplos que falei, posso dizer que abri algumas portas fora do Brasil. Isso é legal, não só para mim, mas para os brasileiros de uma forma geral.

SÃO PAULO
A grande maioria das grandes capitais tem uma cena de grafite legal. Das que conheci, São Paulo é a mais forte. Mas Paris e Nova York, nesta ordem, também são muito fortes. Depois vem Londres.

ZEZAO E O VICIO
O pixo VICIO existe desde 1989, e foi fundado pelo Boleta, que assina TJ, depois vieram outros integrantes como o P, o V e o BN. Em 1998, quando estava bem dedicado aos meus roles em lugares mais obscuros e abandonados, passei a ver muito o role do Boleta também em locais mais macabros. Pensei comigo, não sou só eu que me identifico em explorar esses espaços com spray.
Naturalmente, acabamos nos conhecendo. Disse para ele que admirava o role que ele fazia. Disse também que gostaria de começar a assinar VICIO também. Foi assim que comecei no VICIO.

PIXACAO
Pelos diversos problemas que tive com a justiça, e também pela idade, parei com a pixacao. Mas não escondo meu passado, nem meu role, tenho orgulho de tudo que fiz. Às vezes faço um ou outro, mas só pra tirar um barato.

GRAFITE X PIXACAO
Apesar da diferença estética e de estilo, o grafite e a pixacao se unem, ambos tem a intenção de demarcar, legal ou ilegalmente um lugar.
Nunca segurei a bandeira da pixacao, do grafite, ou seja do que for. Gosto de fazer de tudo um pouco