Para THE NEW YORK TIMES
Numa noite qualquer de sexta-feira, a clientela do Red Rooster engloba não só elementos do “magnífico mosaico” de Nova York, como também David Dinkins, o ex-prefeito que cunhou a expressão. Nos 76 assentos do restaurante, nos 24 lugares das mesas comunitárias perto do bar, nos 20 lugares do bar propriamente dito e nos 40 assentos do café na calçada, banqueiros do bairro esbarram em Bill Clinton.
A escritora Nora Ephron pode estar sentada ao lado de Thelma Golden, diretora do Studio Museum; e a cantora Alicia Keys pode ser vista num canto, tendo à esquerda uma mesa com Ralph e Ricky Lauren, e à direita senhoras de uma igreja local.
Isso, de certa forma, é experiência típica do Red Rooster, a porta para o Harlem aberta no final do ano passado pelo chef celebridade Marcus Samuelsson.
Esse lugar na avenida Lenox se tornou quase instantaneamente um destino não só para quem procura cozinha afro-americana com sotaque sueco. Barack Obama escolheu o Red Rooster como local de um jantar de arrecadação do Comitê Nacional Democrata, em março, com convites a US$ 30,8 mil por pessoa.
Bairro periférico vive onda de renascimento
Faz tempo que os entusiastas do Harlem alardeiam que o bairro vai virar moda. “Estamos agora realmente vendo o renascimento que havia sido imaginado”, disse Myiesha Phelps, executiva do banco J.P. Morgan e moradora do Harlem.Ela esperava na porta do Red Rooster com uma reserva que, segundo ela, demorou meses para ser conseguida.
Vários bares, galerias e lojas sofisticados também foram abertos recentemente no bairro.
No Red Rooster “você não encontra gente comum”, disse Adrian Surgeon, recepcionista do restaurante. “Você encontra um espelho do que o Harlem oferece como um todo”.
O mesmo espetáculo pode ser apreciado por clientes de lugares próximos, como o Chez Lucienne, o Sylvias´s, o Lenox Lounge e, a partir de setembro, o Pink Tea Cup, restaurante do West Village que vai abrir uma filial na avenida Lenox.
Todo fim de semana, Gerald Tucker lustra os sapatos, penteia o bigode, veste um terno Ralph Lauren, põe uma das suas 14 gravatas borboletas e sai de casa, no Lower East Side, para ir ao Red Rooster.
Com uma taça de vinho tinto na mão, ele deu uma olhada no bar e declarou que a experiência do Red Rooster é um sucesso. “Claro que tudo parece bom quando é novo, e acreditem em mim, aos 80 anos eu já vi muitas coisas se desenvolverem e acontecerem no Harlem”, disse.
Ele conhece o bairro desde os seus dias de glória, quando o Red Rooster original, nos arredores do Strivers Row (histórico conjunto de edifícios residenciais do Harlem), era um boteco clandestino, eventualmente chamado de Stork Club of Harlem, que atraía políticos e esportistas locais.
Para o chef Samuelso, que nasceu na Etiópia e foi adotado e criado na Suécia, a decisão de se envolver com “a mística, a beleza e a história do Harlem não podia ser tomada levianamente”.
“Vivi no Harlem por seis anos, e nos quatro primeiros anos não estava preparado para abrir um restaurante”, disse ele. “Eu não tinha licença para fazer isso até que sentisse que estava no Harlem e que era do Harlem”.
O Red Rooster pode ajudar a dar visibilidade ao Harlem, mas não exclusivamente para o consumo de turistas.
Assim como Paris, com que o chef sempre o compara, o Harlem, como bairro – abençoado por luz abundante, amplas avenidas e população diversificada – funciona como um palco sobre o qual um rico teatro de vida pedestre é encenado.
A vida nas ruas do Harlem é sempre “uma bagunça total”, disse recentemente o motorista aposentado Raymond Bailey, bebendo um licor Baileys no bar do Red Rooster.
Vestindo terno, um impecável chapéu de palha e óculos de sol Bailey deu uma olhada no público ao seu redor – um desfile que incluía linda jovens com vestido esvoaçantes e bolsas Prada, casais gays musculosos em camisetas regatas e sapatos Toms, grupos de idosas com trajes de noite, turistas francesas com aquelas calças Capri que só as turistas francesas ainda usam, e...olha, não é a modelo Cindy Crawford descendo de uma Suburban preta?
Sim, é.
+
Harlem é um bairro de Manhattan na cidade de Nova Iorque, conhecido por ser um grande centro cultural e comercial dos afro-americanos. Apesar de o nome ser geralmente atribuído a toda a região alta de Manhattan, o Harlem é tradicionalmente limitado pela Rua 155 (155th Street) a norte e o Rio Harlem a leste. O limite ocidental de Harlem é o Rio Hudson, que serve adicionalmente como limite da cidade, do condado (county) e do estado de Nova Iorque.