segunda-feira, 2 de maio de 2011

MALCOLM X É TIDO COMO O "MESTRE DA REINVENÇÃO"

Por Michiko Kakutani
Para o The New York Times
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Manning Marable


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Malcolm X foi um mestre da reinvenção, um caipira que se tornou sucessivamente um artista exibicionista, um pequeno criminoso, um intelectual autodidata, um nacionalista negro com ódio dos brancos, um seguidor do islamismo ortodoxo e uma personalidade internacional na defesa “da vida, da liberdade e da busca da felicidade para todos”.
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Em “Malcolm X: A life of Reinvention” (Malcolm X: uma vida de reinvenção), um livro revelador e prodigiosamente pesquisado, o autor Manning Marable – professor da Universidade de Columbia que trabalhou na obra por mais de uma década e morreu em 1º de abril, na véspera da sua publicação – relata essas muitas encarnações do sue personagem.
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Marable sugere que Malcolm exagerou sua juventude como deliquente, na famosa “Autobiografia”, “para criar uma alegoria que documentasse as consequências destrutivas do racismo” e para ressaltar o poder transformador da Nação do Islã.
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Na visão de Mirable, a “Autobiografia”, escrita com Alex Haley (que ficaria famoso por “Negras Raízes”), foi sob alguns aspectos “mais de Haley que do seu autor” e era uma obra “na tradição da autobiografia de Benjamin Franklin”, e não “um manifesto pela insurreição negra”.
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Marable oferece um convite relato sobre o rompimento de Malcolm X com a Nação do Islã e sobre como as tensões entre ele e o líder da Nação, Elijah Muhammad, se agravaram depois que Muhammad engravidou uma mulher que havia tido um longo namoro com Malcolm X.
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No decorrer da obra, Marable descreve como os membros da Nação estavam determinados em se livrarem do carismático Malcolm X, que havia formado um novo grupo.
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Quando os registro de vigilância forem totalmente disponibilizados, afirma Marable, “não seria uma surpresa se viesse à tona uma transcrição do FBI documentando um telefonema de Elijah Muhammad a um subordinado, autorizando o assassinato de Malcolm” – mas o autor não apresenta prova alguma disso.
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Marable argumenta que o homem que realmente disparou “o tiro mortal, o golpe que executou Malcolm X” – um certo Willie Bradley – ficou livre, mas acabou cumprindo apenas posteriormente por outros crimes.
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Marable especula que o Bradley “e possivelmente outros membros da mesauita de Newark podem ter colaborado ativamente nos disparos com a polícia local e/ou FBI”, mas novamente não apresenta provas que corroborem tal suspeita.
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O autor corrige algumas suposições populares: diz, por exemplo, que Malcolm X foi introduzido à Nação do Islã não por um colega de prisão – como mostra o filme “Malcolm X”, de SPIKE Lee - , mas por familiares.
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Algumas pessoas citadas no livro retratam Malcolm X como sendo fatalista nos seus últimos dias de vida. Mas ele também viria a reconhecer, nas palavras de Marable, que “os negros de fato poderiam alcançar uma representação e até mesmo poder sob o sistema constitucional da América”.
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Na sua “Autobiografia”, Malcolm X escreveu: “Enquanto o racismo leva a América para o caminho do suicídio, eu acredito, pela experiência que tive com eles, que os brancos da geração mais jovem, nas faculdades e universidades, verão a caligrafia na parede, e muitos deles se voltarão para o caminho espiritual da verdade – a única forma que resta para que a América evite o desastre ao qual o racismo inevitavelmente levará”.




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Filme: Malcolm X
Diretor: Spike Lee
Realização: Warner Brothers
1992