quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

AINDA SOMOS OS MESMOS E VIVEMOS COMO NOSSOS PAIS

Por Maria Gal, atriz e empreendedora cultural, soteropolitana, 35 anos
Foto Paola Vianna
Modelo Xênia França

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SIM, NÓS PODEMOS!
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A história da mulher negra no Brasil vem sido marcada pela violação dos seus direitos e com inúmeros desrespeitos desde a época da escravidão, quando muitas eram usadas em diversos tipos de trabalho escravo, isso quando não eram estupradas pelos seus “senhores” ou filhos de senhores.
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Hoje o que mudou? O que é ser uma mulher negra no Brasil?
Quantas atrizes, diretoras, roteiristas, empresárias, escritoras, jornalistas, dramaturgas, produtoras negras conhecemos?
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Um número que com certeza não condiz com a realidade quantitativa brasileira. Reflexo desse passado histórico? Também.
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Vamos pegar um importante veículo de comunicação e arte como o cinema como exemplo. Segundo a pesquisa realizada pela cineasta negra Viviane Ferreira através do banco de dados de 2 importantes sites sobre cinema nacional temos os seguintes dados: 5 roteiristas brancas pra nenhuma negra, 13 produtoras brancas pra nenhuma negra, 42 diretoras brancas pra nenhuma negra, 289 atrizes brancas pra 20 negras.
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Reflexo desses dados estão na própria cinematografia brasileira quando a personagem negra encontra-se excluída, não individualizada, e inserida em determinadas caricaturas e estereótipos sociais como a empregada doméstica, a mulata sedutora, a vítima, sem família, enfim sempre a margem da sociedade.
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Esses dados demonstram não apenas o espelho de uma realidade desigual, mas também o imaginário que faz parte da cultura da nossa sociedade.
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Pra mim ser mulher, negra e cidadã brasileira hoje tem como primeiro passo a consciência dessa realidade. Mas não pra ficar simplesmente com os braços cruzados reclamando a falta de espaço e oportunidade ou vivendo como num campo de batalha, mas sim pra propor ao mundo das mais variadas formas uma mudança de paradigma em relação a mulher negra, seja quando estou atuando ou quando estou empreendendo 1 projeto.
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Afinal de contas, quantas Carolina Maria de Jesus (importante escritora negra da década de 60) desconhecemos? Quantas Robertas, Lilians, Joyces, Marianas, Déboras, Vivianes, Marias desconhecemos e que estão agindo?
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Ou ainda: Por que um ator negro não pode fazer um papel de galã?
Será que arquetipo de personagem tem propiedade de algum tipo fisico? Ou será que Um homem como Lázaro Ramos não pode ser desejável por mulheres?
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Por que uma atriz negra não pode fazer o papel de uma empresária de sucesso com família, ou qualquer outro personagem que fuja dos estereótipos convencionais? Por que uma roteirista negra não pode roteirizar um longa metragem dirigido por uma diretora negra e protagonizado por uma atriz negra?
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SIM! PODEMOS SIM!
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Vamos ocupar os espaços um dia muitos acharam ou acham que não podemos ocupar! Vamos ocupar as universidades, bibliotecas, teatros, cinemas, tv’s, governos etc.
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VAMOS OCUPAR!!!
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Usando de toda criatividade, dignidade e sabedoria. Espero que possamos todas e todos, independente de raça ou sexo, através do nosso papel na sociedade contribuir pra alavancarmos mudanças de paradigmas benéficas à humanidade e pra as próximas gerações, pra que tenhamos um Brasil mais justo e democrático, aproveitando o início dessa nova era que se inicia.
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A título de informação a ONU decretou 2011 como o ano internacional dos afro descendentes no mundo.
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