quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A IMPRENSA NEGRA PAULISTA (1915 – 1963)

Por Nabor JR.
Fotos: MANDELACREW

Foi ainda no período colonial que o tipógrafo negro Francisco de Paula Brito fundou O Homem de Cor (1833), depois denominado O Mulato, no Rio de Janeiro, primeiro jornal de combate à discriminação racial no Brasil, precursor daquilo que mais tarde iria se chamar “imprensa negra”.

Porém, antes mesmo da iniciativa de Paula Brito, em 1798, pessoas negras em Salvador, na Bahia, haviam organizado a Revolta dos Búzios, utilizando como veículo aglutinador manifestos colados em paredes da cidade, o que hoje se chama jornal mural. Houve ainda a experiência primeira do jornal O Bahiano, do jurista Antonio Pereira Rebouças, que circulou sob sua responsabilidade de 1828 a 1831.

No entanto, na visão do antropólogo francês Roger Bastide, que em 1973 publicou o estudo A imprensa negra do Estado de São Paulo, e da socióloga Miriam Nicolau Ferrara, que em 1981 apresentou a tese A imprensa negra paulista 1915-1963, responsáveis pelas duas principais pesquisas a cerca do tema, foi o lançamento do jornal O Menelick, em 1915, o marco fundador da imprensa negra paulista.

Difundindo aquilo que os seus redatores achavam mais interessantes para a vida social e cultural dos negros, O Menelick conseguiu grande prestígio na comunidade negra paulista. Após o início da sua circulação, outros periódicos se sucederam na seguinte ordem: A rua e O Xauter, 1916; O Alfinete, 1918; O Bandeirante, 1919; A Liberdade, 1919; A Sentinela, 1920; O Kosmos, 1922; O Getulino, 1923; O Clarim da Alvorada e Elite, 1924; Auriverde, O Patrocínio e

O Progresso, 1928; Chibata, 1932; A Evolução e A Voz da Raça, 1933; O Clarim, O Estímulo, A Raça e Tribuna Negra, 1935; A Alvorada, 1936; Senzala, 1946; Mundo Novo, 1950; O Novo Horizonte, 1954; Notícias de Ébano, 1957; O Mutirão, 1958; Hífen e Niger, 1960; Nosso Jornal, 1961; e Correio d’Ébano, 1963.

Miriam Nicolau Ferrara, reformulando a subdivisão que já havia sido feita Bastide, divide a imprensa negra em três períodos. O primeiro começa em 1915, com o lançamento de O Menelick, primeiro jornal feitos por negros e para negros.

Para a autora, o lançamento de O Clarim da Alvorada, em 1924, marcou o surgimento de uma série de publicações mais reivindicativas, dando início à segunda fase da imprensa negra. É nesse período que surge a Frente Negra Brasileira, que publicou seu órgão oficial, A Voz da Raça, veiculado de 1933 até 1937, quando o advento da ditadura getulista fechou a Frente, a essa altura já transformada em partido.

Em 1933, com o jornal A Voz da Raça, que passa ser o principal meio de
comunicação da imprensa negra, emerge o terceiro período, que se estende até 1937, quando a Frente é fechada pelo Getúlio. Nessa época, a Frente Negra (FNB) já havia se transformado em partido político.

Nesse período, a admissão da questão racial era vista como antipatriotismo, o que, certamente, era refletido na imprensa. Somente com a queda de Getúlio, em 1945, o jornal Alvorada, retoma os ideais da imprensa negra e marca a sua terceira fase, seguindo até 1963, quando é novamente paralisado por causa da ditadura.

Agora veremos as principais características de alguns dos periódicos responsáveis por estabelecer e solidificar a cultura de uma imprensa negra na cidade de São Paulo, com certeza uma das mais relevantes manifestações de identidade étnica da trajetória do negro brasileiro na luta pela cidadania.

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Jornal
O Menelick

Fundação
17 de outubro de 1915

Extinsão
1º janeiro de 1916

Cidade
São Paulo

Periodicidade
Mensal

Número de páginas
4

Redação/ Responsável
Reginaldo Maximo Gonçalves (presidente)
Deocleciano Nascimento (redator)
Geralcino de Sousa (redator)

Ilustração
Somente alguns ornamentos e contornos ao redor dos poemas.

Colaboradores
Marinheiro, Marcus Primus, Roque Cardoso Rosa, Camargo, João Evangelista, B. Pereira, entre outros.

Caracterização
Apresenta algumas colunas, não necessariamente permanentes, contendo notícias corriqueiras, como anúncios de festas, fofocas, paqueras, inaugurações de clubes, concursos de beleza, espaços para aniversariantes, falecimentos e, em outras seções, poemas e contos.

Descrição
Jornal informativo e comunitário que trata de assuntos vinculados à cultura e a identidade negra. Poético e interativo, muitas vezes, encarregava-se de convidar a comunidade para participar do jornal com contos ou poesias, além de dedicar um pequeno espaço para paqueras e fofocas entre leitores e outras figuras dos distritos, onde se dava a circulação do periódico. O título do jornal deve-se a uma homenagem de seus fundadores a um soberano da Etiópia, único país africano a não ter a sua independência abalada, chamado Menelick II.
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Jornal
O Xauter – Jornal Independente

Fundação
1916

Extinção
Desconhecido

Cidade
São Paulo

Periodicidade
Não consta

Número de páginas
4
Redação/ Responsável
Não consta. Foi propriedade de uma sociedade anônima.
Ilustração
Não consta

Colaboradores
Pindoba, Idalina F. Santos, Chefe, Victor Hugo.
Caracterização
Apresenta colunas informativas que tratam de assuntos variados, com estilos diferenciados, como poesias, crônicas, contos, temas políticos e religiosos, mencionando o respeito, a ética e a moral como fatores para a melhoria da conduta pessoal frente à sociedade. Além de propagandas diversas.
Descrição
Procura informar a comunidade sobre festas e comemorações de datas especiais e religiosas, sobre lugares considerados “inadequados”, além dos muitos comentários que eram permitidos a qualquer colaborador, já que o jornal admitia a participação de toda a comunidade. Nota-se, em suas páginas, um carisma por seus governantes contemporâneos e os mais antigos, como D. Pedro II, que é lembrado com saudosismo. Há também uma grande devoção pelo catolicismo.
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Jornal
O Alfinete – Orgam Litterario, Critico e Recreativo Dedicado aos Homens de Cor

Fundação
Agosto de 1918

Extinsão
Novembro de 1921

Cidade
São Paulo

Periodicidade
Quinzenal (1918-1919) e Mensal (1921)

Número de páginas
4

Redação/ Responsável
Augusto de Oliveira
Frederico B. de Souza (Ano IV)
Ilustração
Não possui

Colaboradores
Diversos

Caracterização
O periódico traz diversas seções com homenagens a militantes negros falecidos, notificações de aniversários, notícias sobre as sociedades dos “homens de cor”, críticas e Frases apanhadas. Traz, também poesias de Cruz e Souza e de moradores de vários bairros. Além de possuir páginas inteiras dedicadas a anúncios publicitários.
Descrição
O periódico discute a situação racial e social do negro na sociedade. Traz críticas ofensivas ao analfabetismo como meio de “escravidão”. Apresenta a realidade dos salões destinados à vida cultural dos “homens de cor” e cobra uma prática social coerente, de maneira a evitar a descaracterização dos propósitos dos “homens de cor” e contribuir para a auto-estima do negro.
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Jornal
A Liberdade – Orgam dedicado à Classe de Côr, Crítico, Literário e Noticioso.

Fundação
14 de julho de 1919

Extinsão
Outubro de 1920 (data limite segundo os acervos do Arquivo Público do Estado de São Paulo e do Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa da Universidade Estadual Paulista)

Cidade
São Paulo

Periodicidade
Quinzenal durante o ano de 1919, e mensal durante o ano de 1920.

Número de páginas
4

Redação/ Responsável
Gastão Rodrigues da Silva (redator)
Frederico B. de Souza (secretário)
Joaquim Domingues (gerente)

Ilustração
Contém apenas uma imagem do responsável pelo periódico, o redator Gastão Rodrigues da Silva.

Colaboradores
Frederico Baptista de Souza, José de Melo, Arthur de Oliveira, Alberto Franco e “Matuto”.

Caracterização
O periódico possui algumas colunas fixas, tais como:

Vagando – A coluna trata, na maioria das vezes, de assuntos relacionados às sociedades recreativas, e é assinada sempre pelo pseudônimo de Matuto;

Críticas – A coluna, de caráter moral, é dedicada a críticas dirigidas aos membros das sociedades recreativas que apresentavam mau comportamento.

O jornal possui ainda diversos avisos sobre os bailes e as nomeações das diretorias das sociedades e dos clubes dançantes voltados às classes de cor. Sua última página costuma ser ocupada por propagandas.

Descrição
A publicação A Liberdade surgiu em 14 de julho de 1919, com o objetivo de tratar da defesa dos homens de cor, quando estes estivessem no seu direito. O seu título faz alusão a um dos preceitos da Revolução Francesa - a liberdade - e até mesmo a data do seu primeiro número coincide com a da tomada da Bastilha. O primeiro exemplar presta uma homenagem a Gastão Rodrigues da Silva, responsável pelo periódico.

O jornal também abre espaço para críticas a comportamentos considerados impróprios para as festas das associações e grêmios recreativos da cidade, como a dança do maxixe, por exemplo, que poderia levar à desmoralização do segmento. Em geral, traz poesias e notícias sobre diversos grupos recreativos, como Elite Flor da Liberdade, Centro Recreativo Paulistano, Brinco de Princesa, entre outros. Atenta para o preconceito presente em algumas sociedades onde o negro não era aceito, inclusive o preconceito existente entre os próprios descendentes em relação a sua etnia.
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Jornal
O Kosmos – Orgam do Grêmio Dramático e Recreativo Kosmos
A partir de 21 de fevereiro de 1923, o subtítulo passou a ser Orgam Official do Grêmio Dramático e Recreativo Kosmos.

Fundação
Agosto de 1922

Extinsão
Janeiro de 1925

Cidade
São Paulo

Periodicidade
Mensal

Número de páginas
4

Redação/ Responsável
de agosto/1922 a janeiro/1923: Abílio Rodrigues (redator), Joaquim Domingues (gerente) e José M. M. Baptista (secretário).

Obs: A partir de fevereiro de 1923, a redação ficou a cargo da diretoria do grêmio, cuja composição variou ao longo dos anos de publicação do periódico. Os presidentes em 1923, 1924 e 1925 foram, respectivamente, Frederico Baptista de Souza, José Martinho de Moura Baptista e Frederico Baptista de Souza.

Ilustração
Não apresenta ilustrações.

Colaboradores
Euzébio, Oliveira, Adolpho Lima, Frederico Baptista de Souza, Theophilo Fortunato de Camargo, J. M. Latino Coelho, Márcio Franco de Moura, Odith Freitas, Guerra Junqueiro, M. Teixeira do Carvalho, Perikito, Deocleciano Nascimento, Luis Guimarães, Davi Rodolfo de Castro, Fabio Luz, Benedicto Florêncio, Durvalina Batista, José Augusto Ferraz e Pedro Ribeiro Vianna.

Caracterização
O periódico publicava poesias, provérbios, textos literários, notícias sobre o Grêmio Kosmos e outros grêmios recreativos. Apresenta algumas colunas fixas - ou que estão presentes em diversos exemplares – como:

Sociaes, apresenta notas sobre aniversários, falecimentos, batizados e notícias sobre as sociedades recreativas;

Ideas dos outros, coluna dedicada a piadas;

Observando, trata de assuntos referentes aos grêmios e critica aquilo que era considerado impróprio para os negros;

Notas Lithurgicas, traz informações sobre alguns eventos religiosos. Nos exemplares analisados foram encontrados apenas dois anúncios.

Descrição
O Grêmio Recreativo e Dramático Kosmos foi fundado a 15 de novembro de 1908. O seu aparecimento partiu de um grupo de sócios do Grêmio Dramático 18 de agosto, que se desligaram deste último e tiveram a iniciativa de formar um novo grêmio. O Kosmos possuía um caráter moralista, envolvendo-se na vida particular de seus sócios e admitindo apenas aqueles que apresentassem um bom comportamento moral e civil. Na edição de setembro de 1922, o periódico prestou uma homenagem à independência do Brasil, ressaltando o ideal de liberdade e as figuras proeminentes desse acontecimento. Publicou, ainda, matérias dos jornais A Gazeta e Getulino que atentavam para o preconceito existente em São Paulo contra os negros, conclamando-os a lutarem pelos seus direitos contra esse estado de coisas.
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Jornal
O Clarim D’Alvorada - Orgam Literário, Scientifico e Político

Fundação
6 de janeiro de 1924

Extinsão
Setembro de 1940

Cidade
São Paulo

Periodicidade
Mensal (apesar de algumas irregularidades em sua publicação)

Número de páginas
A maioria dos exemplares contém 4 páginas. Algumas edições, porém, continham 5 ou 6 páginas.
Redação/ Responsável
Jayme de Aguiar (diretor) e José Correia Leite (diretor)

Ilustração
O periódico possui inúmeras ilustrações. Dedica algumas páginas apenas a fotografias ligadas a grandes personagens da história dos negros no país, entre eles, José do Patrocínio, Luis Gama e José Correia Leite. Outras fotografias estão ligadas a movimentos e festas sociais, como futebol e carnaval. O periódico exalta, em suas páginas, diversas gravuras, datas históricas ligadas à sociedade negra, principalmente datas como 13 de maio. Além dessas ilustrações, importante destaque ilustrativo é dado para as publicidades, que chegam a ter páginas inteiras dedicadas a elas.

Colaboradores
Benedicto Ribeiro, Myses Cintra, Cyro Costa, Jayme de Aguiar, José Correia Leite, Gervásio de Morais, Luis Barbosa, Deocleciano Nascimento e Horácio da Cunha. Alguns colaboradores assinam seus artigos com pseudônimos, como Seu Neto e Zé da Esquina.

Caracterização
O periódico possui diversas colunas fixas, e seus temas são variados, mas todos relacionados a assuntos ligados à comunidade negra. A coluna Vida Social traz assuntos sobre a sociedade negra em São Paulo e no Brasil, abordando temas como educação, festas sociais, versos, esportes, além de divulgar casamentos, aniversários e falecimentos. Em algumas publicações, o periódico dedica páginas inteiras a anúncios publicitários, divulgando serviços de advocacia, médicos, farmácias homeopáticas, alimentos, etc. Já, a Seção Feminina dá dicas de moda e beleza para mulheres “da cor”. Roda Pé Literário é uma coluna com temas para toda a comunidade negra, fazendo homenagens a grandes personalidades da história negra. Um dos personagens mais destacados nessa coluna é José do Patrocínio. Diversos artigos tratam sobre outros periódicos e seus responsáveis.

Descrição
As matérias do Clarim, em geral, não se encontram em uma seqüência lógica, tendo seus textos dispostos de maneira desordenada pelas páginas. Em muitos artigos desse jornal a educação é apresentada como caminho para a ascensão social dos negros. Comumente eram invocados os exemplos de Luis da Gama, José do Patrocínio, Cruz e Souza, dentre outros, como símbolo da importância da educação. Aborda um conceito de educação sempre vinculado a uma concepção de civilidade e moralidade que pretendiam incentivar, além de artigos apoiados na valorização da educação enquanto meio de integração e ascensão social. O próprio jornal julga-se pedagógico e instrutivo. Muitos foram os artigos que procuravam incentivar o negro a uma tomada de consciência considerada adequada. Nesse sentido, um dos objetivos do grupo que dirigia esse periódico era o de incentivar a união dos negros para a conquista de seus ideais. Outros artigos procuravam lembrar a contribuição dos negros na formação do Brasil. Assim, procurou reafirmar a brasilidade e o nacionalismo do negro no Brasil, reconhecendo seu trabalho para o desenvolvimento do país. O grande objetivo desse periódico é ressaltar a importância do trabalho escravo para o crescimento da economia brasileira, e a participação do negro na constituição de toda a nação brasileira. Apresenta-se como um veículo capaz de promover um trabalho de conscientização e mobilização dos negros em direção a sua integração plena na sociedade brasileira.
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Jornal
Auriverde – Litterário, Humorístico, Noticioso

Fundação
Abril de 1928

Extinsão
Maio de 1928

Cidade
São Paulo

Periodicidade
Semanal

Número de páginas
4 páginas e uma única edição com 6 páginas
Redação/ Responsável
Deocleciano Nascimento (redator)
João Augusto de Campos (diretor)
Geralcino de Souza (secretário)

Ilustração
Possui algumas fotografias, como da Princesa Isabel, D. Pedro II e de José do Patrocínio.

Colaboradores
João de Deus, Juvêncio Só, Maria Conceição, Gervasio de Moraes, J. Honorário de Oliveira, Luiz Barbosa, Durval Marques e Moysés Cintra.

Caracterização
O periódico possui textos literários, poesias, notas sociais e notícias sobre algumas sociedades recreativas e sobre outros jornais. Apresenta algumas colunas - não presentes em todos os exemplares – como: Charada, onde aparecem perguntas ao leitor, que são respondidas no exemplar seguinte; e Aniversários e Futebol. Contém propagandas diversas, sempre na última página do jornal.

Descrição
O periódico tinha como objetivo tratar de assuntos referentes à raça negra. Defendia a educação como forma de preparar os negros para a disputa de cargos que dependessem de exames e concursos, a fim de propiciar a ascensão dos mesmos. Na edição especial em comemoração ao dia 13 de maio, foram publicadas matérias exaltando a princesa Isabel e diversos abolicionistas. O periódico colocava-se ao lado do Clarim d’Alvorada na luta em prol da raça negra.
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Jornal
Progresso

Fundação

23 de junho de 1928

Extinsão
15 de novembro de 1931

Cidade
São Paulo

Periodicidade
Mensal

Número de páginas
Alterna-se em 4, 6 e 8 páginas.

Endereço
Largo do Riachuelo, n°38.

Redação/ Responsável
Argentino Celso Wanderley (proprietário e diretor), após 1929 Wanderley A. Ferreira aparece como proprietário, Lino Guedes (editor), Euclydes S. dos Santos (diretor), Manoel Conceição (gerente) e Horácio Cunha (gerente).

Ilustração
Apresenta fotografias em todas as edições, em sua maioria, de pessoas homenageadas pelo jornal, Há outras ilustrações de lugares, do carnaval, de festas.

Colaboradores
Luiz Carmillo, Jacob Netto, Euclydes de Oliveira, Benedicto Florêncio, Antônio dos Santos Oliveira, Adalberto Pires de Freitas, Rodolpho de Loremal, João B. Ferraz, João Eugenio da Costa e Veiga dos Santos.

Caracterização
O periódico era publicado mensalmente e vendido por meio de assinaturas semestrais. Possuía tipografia própria, onde eram realizados também serviços por encomenda. Uma característica marcante desse jornal era a publicação de certo número de artigos que, de alguma maneira, colocavam em evidência as questões referentes ao preconceito racial, tratando de temas políticos e religiosos, mencionando o respeito, a ética e a moral para a melhoria da conduta pessoal frente à sociedade. Possui diversas propagandas e anúncios que ocupam a última página Nesse periódico, havia uma coluna cujo nome era Abolicionista que tomba, na qual trazia algumas homenagens e informações a respeito de pessoas falecidas envolvidas na luta a favor da abolição. Possui colunas tais como: Sociais, onde eram informadas notícias como casamentos, óbitos, nascimentos, batizados, entre outras. Publicava notícias de algumas associações recreativas e culturais. Também foram divulgadas notícias sobre esportes e atletas negros no cenário esportivo nacional e mundial, como o futebol e o boxe. Contém seções destinadas aos eventos culturais, como: teatro, música, dança, cinema, bailes, carnaval, poesia, etc. Eram, além disso, fornecidas informações de vários países a respeito dos negros e dos problemas enfrentados por eles. O periódico traz diversas seções com homenagens a militantes negros falecidos. Possuía representantes nas seguintes cidades: Tiête, Limeira, Cosmópolis, Sorocaba, São Vicente, Botucatu, Rio Claro e Uberaba.

Descrição
O periódico foi fundado como parte das comemorações e divulgação do centenário da morte de Luiz Gama (abolicionista). Empreendeu uma campanha em prol da construção de uma herma em sua homenagem. Tinha como principal objetivo promover a elevação moral dos negros, conduzindo-os ao caminho do progresso. Desta forma, atuou de maneira bastante contestatória em relação à situação dos negros em São Paulo. Em alguns momentos, as críticas foram dirigidas aos próprios negros, mas, em geral, foram feitas a uma parcela da sociedade que continuava a usar de preconceito no tratamento aos negros. Outra característica desse jornal foi a publicação de matérias alusivas a algumas personalidades que participaram do processo de abolição da escravidão no Brasil. Aborda assuntos literários, humorísticos e políticos, nos quais procura manifestar a insatisfação perante as injustiças cometidas contra os negros. Combatia a idéia de inferioridade racial e, ao mesmo tempo, valorizava algumas características físicas e intelectuais dos negros.
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Jornal
Chibata - Nós Somos Os Judas Da Raça, Quem Serão Os Christos?

Fundação
Fevereiro de 1932

Extinsão
Março de 1932

Cidade
São Paulo

Periodicidade
Mensal

Número de Páginas
4

Endereço
Rua Conde de Sarzedas, Nº 42.
Redação/ Responsável
Homem negro (editor) e F. Xicocosta (gerente)

Ilustração
Não apresenta ilustrações

Colaboradores
Todos os colaboradores aparecem com pseudônimos. Alguns são assinantes do periódico, como por exemplo: Vicente Tinico, Moquirana e Luctador Zorolho.

Caracterização
Apresenta publicidades de prestadores de serviços autônomos, sem possuir uma ordem definida de colunas. Suas colunas possuem informativos sobre o carnaval do ano de 1932. Quase todas as matérias consistem em críticas à Frente Negra Brasileira. Essas críticas aparecem de maneiras variadas, em poemas, letras de músicas e em formas de adivinhação. Além das criticas, publicavam-se notícias de outras associações, poucos anúncios e crônicas.

Descrição
Possui diversas notas e artigos sobre o pensamento negro. Periódico de cunho moral, que condenava o adultério e as brigas nos bailes carnavalescos. Foi fundado com o objetivo de atacar satiricamente a Frente Negra Brasileira (FNB). O jornal tinha um forte caráter irônico e debochado, sem deixar de ser bem humorado em suas críticas.
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Jornal
A Voz da Raça - Orgam Oficial da “Frente Negra Brasileira” Semanário Independente. (Em 26 de abril de 1934 passa a ter o subtítulo “Orgam da gente negra brasileira”).

Fundação
Março de 1933

Extinsão
Novembro de 1937

Cidade
São Paulo

Periodicidade
Semanal. Porém, a partir de 5 de agosto de 1933, o periódico passa a ser publicado quinzenalmente. Em 11 de maio de 1935, o jornal passa a ser publicado mensalmente

Número de páginas
4 páginas. Algumas edições, contudo, contém de 5 a 7 páginas.

Endereço
Rua Conselheiro Brotero, nº 156.
Em 24 de junho de 1933, a redação passa para a Rua da Liberdade, nº 196, sala 10.

Redação/ Responsável
Deocleciano Nascimento (redator)
Pedro Paulo Barbosa (secretário)
A. de Campos (Gerente)

O expediente do jornal sofreu algumas modificações ao longo dos anos. Em junho de 1933, teve como gerente Ismael Amaral e como redator Mario Campos. Em agosto do mesmo ano, a gerência passou a R. A. Santos. Em dezembro de 1933, Deocleciano Nascimento assume a direção do jornal, que seria compartilhada, em abril de 1934, com Raul J. Amaral. Em maio de 1935, o gerente passa a ser João de Souza. Em dezembro de 1935, nova mudança na direção, agora Antonio M. dos Santos ocupa o lugar de Raul J. Amaral. Por fim, Antonio M. dos Santos ocupa o cargo de redator, em março de 1936.

Ilustração
Fotos de personagens políticos, como o presidente Getúlio Vargas, além de fotos de personagens ligados aos movimentos negros do período ou da própria imprensa negra, como algumas caricaturas de Francisco Costa. Possuía também desenhos e ilustrações de caráter publicitário.

Colaboradores
Arlindo Veiga dos Santos, Leão Peixoto, Olavo Xavier e Joaquim Pedro Kiel.

Caracterização
Todos os exemplares possuem seção de comunicação relacionada a diversos assuntos sociais, em sua maioria ligados à comunidade negra, como anúncios de aniversários, casamentos e notas de falecimento. Há também divulgação de notícias esportivas, destacando, principalmente, grandes feitos de atletas negros. Seção destinada a anúncios de profissionais autônomos oferecendo seus serviços ao público da raça. Diversas notas comunicativas da Frente Negra Brasileira (FNB), como o anúncio do departamento musical patrocinado pela própria FNB. Faz também a divulgação de notas críticas sobre outros periódicos da raça. Em muitos exemplares é possível encontrar notas de convocação para a milícia frentenegrina em prol da defesa nacional. Possui também, em quase todos os exemplares, colunas fixas para a prestação de contas do orçamento da Gente Negra Brasileira.

Descrição
O jornal A Voz da Raça proclamava-se porta-voz das ideologias frentenegrinas, um periódico que tinha a intenção de reeducar o negro, incentivando-o a concorrer com o branco em todas as esferas sociais. Por esse jornal, a sociedade tomava conhecimento da insatisfação negra, sua tendência era claramente integralista e monarquista, apoiando veementemente o nacionalismo de Getúlio Vargas.

Publicado entre os anos de 1933 e 1937, era o periódico oficial da FNB. A partir da articulação de uma diversidade de posicionamentos políticos, a FNB e o periódico reconheciam suas finalidades, como a de promover a união política e social da gente negra nacional, para a afirmação dos direitos históricos dessa gente, em virtude de sua atividade material e moral no passado, reivindicando seus direitos sociais e políticos. Posiciona-se contra a idéia de branqueamento da população brasileira, enaltecendo a negritude. Dessa forma, a população negra do Brasil, ia, aos poucos, articulando-se e contrapondo-se de forma mais organizada ao preconceito e às discriminações raciais, servindo, também, como meio de divulgação das ações políticas frentenegrinas do estado de São Paulo.
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Jornal
Tribuna Negra – Pela União Social e Política dos Descendentes da Raça Negra

Fundação

Setembro de 1935

Extinção
Desconhecido

Cidade
São Paulo

Periodicidade
Quinzenal

Número de páginas
4

Endereço
Rua João Domingos, n˚07.

Redação/ Responsável
Augusto P. das Neves (diretor), Manoel A. Santos (redator) e Fernando Góes (secretário).

Ilustração
Possui fotografias, principalmente de abolicionistas.

Colaboradores
Henrique Antunes Cunha e Israel de Castro.

Caracterização
O periódico possui partes dedicadas à literatura, como contos e poemas. Contém a coluna Sociais - que traz notas sobre aniversários, nascimentos, falecimentos, festivais, bailes, casamentos, entre outras notícias. Em algumas divisões faz homenagens aos abolicionistas, como exemplo, Luiz Gama. Contém seções destinadas às data comemorativas, como o dia da Mãe Negra (28 de setembro). Possui anúncios ao longo da edição. O jornal trata de questões como a guerra e o negro.

Descrição
Em 1932, no mesmo ano da Revolução Constitucionalista, o advogado Guaraná de Santana foi expulso da Frente Negra, por se associar aos constitucionalistas e fundar a Legião Negra. Esse convida José Correia Leite para criar em o jornal Tribuna Negra, em 1935, mas o projeto não teve continuidade por divergências políticas. O periódico procura incentivar os negros em uma tentativa de esforço por novos tempos, buscando o apoio da coletividade. Trata de questões ligadas à comunidade negra.
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Jornal
Senzala – Revista Mensal Para o Negro

Fundação
Janeiro de 1946

Extinsão
Fevereiro de 1946

Cidade
São Paulo

Periodicidade
Mensal

Número de páginas
Aproximadamente 30 páginas.

Endereço
Edifício Martinelli, 23˚ andar - Sala 2360.
Redação/ Responsável
Geraldo Campos de Oliveira (diretor), Sebastião Batista Ramos (gerente) e Armando de Castro (secretário).

Ilustração
Possui diversas fotografias e desenhos.

Colaboradores
São Paulo: (Aristides Barbosa, Cícero Pereira dos Santos, Francisco Lucrecio, Francisco de C. Printes, Jayme Aguiar, José Antônio de Oliveira, José Correia Leite, Lino Guedes, Luiz Lobato, Nestor Borges, Pedro Paulo Barbosa, Raul Joviano do Amaral, Paulo Moraes, Paulo Santos, Rubens Alves Pinheiro, Salatiel de Capôs e Sofia Campos Teixeira).
Rio de Janeiro: (Abdias do Nascimento, Aguinaldo Camargo, Eronides Silva, Isaltino Veiga dos Santos, José Pompilho da Hora e Sebastião Rodrigues Alves).
Campinas: (Jerônimo Sebastião da Silva, José Alberto Ferreira e Julio Mariano).

Caracterização
O periódico divide-se em partes dedicadas à literatura, contendo poemas, contos, histórias, rimas. Possui a coluna Página Feminina dedicada às mulheres, abordando assuntos como alimentação, moda entre outros. Contém a coluna Sociais que traz notas sobre aniversários, casamentos, nascimentos, falecimentos, batizados. Aborda temas culturais, como homenagens aos negros do rádio, teatro, eventos artísticos, bailes, formaturas, congressos culturais. Também tem uma parte dedicada aos esportes. Em algumas edições, há homenagens aos abolicionistas e a outras personalidades influentes da comunidade negra.

Descrição
Teve existência curta, mas exerceu grande influência no meio negro, desenvolvendo o esforço de unir os negros em favor de uma causa comum. A partir de uma revisão da Convenção Nacional do Negro, de 1945, apresentou novas propostas, reivindicando, principalmente, a participação do negro na sociedade brasileira. O seu objetivo era conquistar a valorização do negro dentro da sociedade, veiculando idéias e princípios e noticiando acontecimentos sociais.
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Jornal
O Novo Horizonte – Órgão de Propaganda Unificadora

Fundação
Maio de 1946

Extinsão
Maio de 1961

Cidade
São Paulo

Periodicidade
Mensal

Número de páginas
4

Endereço
Rua Pedro Taques, nº 83 – C. 2.

Redação/ Responsável
Arnaldo de Camargo (diretor), Aristídes Barbosa (redator-chefe). A partir do nº36, consta como redator Ovídio P. dos Santos. Não foi possível identificar a data em que ele passou a ocupar o referido cargo, pois estão faltando os exemplares do nº26 a nº35.

Ilustração
Possui diversas fotografias ao longo das edições.

Colaboradores
Oswaldo Mandarim (administrador), Francisco Fabiano (representante na capital), Lafayette de Castro (desenhista), Benedito Daniel (tesoureiro), Oswaldo P. Barbosa (presidente), Manoel Barbosa (vice-presidente), Argemiro Dias Lima (diretor-comercial), Guilherme Gonçalves (fundador), José Honorato (diretor de propaganda), Jarbas dos Santos, Geraldo Campos, João de Oliveira, Sofia Campos Teixeira, José Soares, Raul J. Amaral, A. de Camargo, Lino Guedes, João Pedro Arab, Dinorá Ribeiro, Victor Amaral, Waldy Silva, Abilcio Barbosa, Waldemar Machado, João Bento de Oliveira, Vitor Vidal, Cícero Pereira dos Santos, Eloy Pontes, Arlindo Alves Geraldo Freitas e Ruth Guimarães.

Caracterização
O periódico aborda diversos temas, como notícias esporte, grupos musicais, bailes promovidos pelos clubes e associações, promoção de concursos de beleza, informações sobre os artistas negros, temas religiosos; partes dedicadas às mulheres. Possui partes voltadas à literatura, trazendo diversos poemas, contos, histórias e crônicas. Também se encontra a divulgação de diferentes atividades culturais, como teatro e cinema. Contém a coluna Sociais na qual traz informações sobre formaturas, nascimentos, casamentos, aniversários. Traz, também, notícias de outras cidades do interior paulista. Em diversas edições há homenagens a importantes personalidades para a comunidade negra e também para os principais abolicionistas. O jornal contém muitas propagandas.

Descrição
O periódico tinha o propósito de unificar os negros, lutando pela elevação de suas condições moral, intelectual e econômica. Trata de temas relacionados a situação do negro no presente momento das publicações, levantando assuntos como o alcoolismo, a educação, a falta de recursos, o desemprego, o preconceito, a violência, os direitos civis, entre outros temas que estão relacionados à comunidade negra. Aborda diversos assuntos políticos que estão relacionados com os negros. O periódico traz diversas notícias dos negros nos Estados Unidos, levantando questões como o preconceito e os problemas dos negros com o grupo Ku Klux Klan.
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Jornal
Mundo Novo

Fundação
26 de agosto de 1950

Extinsão
Desconhecido

Cidade
São Paulo

Periodicidade
Não Consta

Número de páginas
Foi encontrado apenas um exemplar, disponível no CEDAP, contendo 8 páginas.

Endereço
Rua Luiz Guimarães, 54.

Redação/ Responsável
Armando de Castro (diretor)
José das Dores Brochedo (gerente).

Ilustração
Há diversas ilustrações nesse periódico, todas elas de cunho político, mas não estão discriminados seus autores.

Colaboradores
Gilberto Freyre, Waldemar dos Santos e Armando de Castro.
Caracterização
No único exemplar encontrado, o jornal apresenta colunas e ilustrações ligadas à política, com propagandas e apoio a alguns políticos. Suas colunas estão diretamente relacionadas a assuntos de interesse da comunidade negra. O periódico contém pequenas notas publicitárias, manifestos estudantis e uma página esportiva. Em sua grande maioria os destaques, tanto em forma ilustrativa quanto nos artigos, vão para os movimentos políticos da década de 1950.

Descrição
Um jornal de cunho extremamente político. Sua ideologia é direcionada ao público da raça, destacando atuações políticas, feitos esportivos e movimentações sociais de pessoas negras. Divulga alguns artigos críticos ao sistema capitalista, favorecendo o socialismo operário e estudantil. Demonstra claramente suas convicções políticas, quando apóia candidatos socialistas e democráticos para as eleições do ano de 1950, como o caso do candidato Geraldo Campos de Oliveira, do Partido Socialista Brasileiro. Alguns de seus artigos condenam todos os tipos de discriminação racial, em qualquer parte do mundo, afirmando a importância do negro e sua profunda contribuição histórica na formação econômica, política e social do Brasil.
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Jornal
O Mutirão - Órgão da Associação Cultural do Negro

Fundação
Maio de 1958

Extinsão
Descohecido

Cidade
São Paulo

Periodicidade
Mensal

Número de Páginas
4

Endereço
Rua S. Bento, 405. 16° andar

Redação/ Responsável
Jacyra da Silva (diretora)

Ilustração
Apenas algumas fotos.

Colaboradores
José Correia Leite, José Elias de Paula, Dalmo Ferreira e Tia Lily.

Caracterização
Colunas direcionadas à educação da gente “miúda”. Artigos que procuravam desenvolver o interesse infantil pela leitura e pelas artes, propondo leituras e diversões, com artigos escritos pela “Tia Lily”. O periódico conta com colunas sociais nas duas edições analisadas, divulgando aniversários, casamentos e óbitos. Outros artigos divulgam atividades culturais e esportivas.

Descrição
O Mutirão é um periódico dedicado às pessoas “da raça”. Seus temas estão mais ligados à história dos negros, ao pensamento, à cultura, condenando qualquer forma de discriminação racial. Publica artigos sobre a vida e a obra de alguns grandes autores como: Lima Barreto e Castro Alves. Valoriza a música como qualquer outro tipo de cultura, mas dá ênfase à música negra e ao esporte como grandes manifestações culturais. Ao contrário de outros periódicos, deixa a política de lado para valorizar a cultura negra e brasileira.
REFERÊNCIAS
- BASTIDE, Roger. A imprensa negra do estado de São Paulo. Estudos Afro-Brasileiros. São Paulo: Perspectiva, p. 129-156, 1973.

- FERRARA, Miriam Nicolau. A imprensa negra paulista 1915-1963. Dissertação (Mestrado em Antropologia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. São Paulo, 1981.