Fotos MANDELACREW e Divulgação
Grupo de atores negros que se conheceram na EAD abusa da criatividade ao criar a partir de questões raciais
Estudos sobre o percurso do negro nos multimeios no Brasil, discussões sobre o espaço para a população negra dentro da universidade pública e a criação de ciclo de debates sobre questões raciais pautam desde o início a trajetória da trupe teatral “Os Crespos”. O grupo, que nasceu como grupo de estudos na Escola de Arte Dramática da USP (EAD), na passagem de 2004 para 2005, é formado pelos atores Sidney Santiago, Lucélia Sérgio, Mawusi Tulani e Joyce Barbosa, além de contar com colaboradores recorrentes. “Nós somos um coletivo de atores negros que racializam o trabalho, isto é, que estudam questões afro-raciais”, define Sidney. “Um grupo de teatro que faz propostas a partir do estudo”, completa Lucélia.
Os atores-pesquisadores contam que resolveram se unir após representarem um número significativo na universidade: de 2004 para 2005, eram 5 alunos negros numa turma de 20 e, no ano seguinte, ganharam a companhia de mais 4 colegas negros, algo inédito na história da tradicional escola paulistana. Com essa mudança, começaram a propor diálogos com o corpo docente da escola, a fim de que fosse possível pensar juntos sobre essa nova realidade e sugerir algumas mudanças. Seria necessário repensar características de personagens, iluminação e maquiagem para esse grupo de engajados alunos, num momento em que a USP preferir não abrir espaço para as ações afirmativas.
Na transição entre o grupo de estudos “Negros em Questão” para a companhia “Os Crespos”, a trupe começa a procurar autores afinados com sua proposta racial. Passaram por Solano Trindade, Marcelino Freire e Abdias do Nascimento até chegar à obra de Carolina Maria de Jesus, em especial, no livro “Quarto de Despejo (1960)”, em que a ex-catadora de papel relata sua vida na favela, a dificuldade de criar três filhos, além de chamar atenção para a importância do depoimento como meio de denúncia da estrutura social.
Após serem contemplados com um prêmio cultural que possibilitou o trabalho do grupo, os atores-dramaturgos recriaram a fala da autora, transformando-a em peça, canto e linguagem corporal. Assim, surge o espetáculo “Ensaio sobre Carolina”, que estreou em 2007, com direção de José Fernando de Azevedo, primeiro professor negro da EAD. A pesquisa se debruçou sobre a questão do racismo, sob a ótica do capital. Além disso, se inspiraram na ironia machadiana para fazer a releitura dos depoimentos da Carolina.
Após serem contemplados com um prêmio cultural que possibilitou o trabalho do grupo, os atores-dramaturgos recriaram a fala da autora, transformando-a em peça, canto e linguagem corporal. Assim, surge o espetáculo “Ensaio sobre Carolina”, que estreou em 2007, com direção de José Fernando de Azevedo, primeiro professor negro da EAD. A pesquisa se debruçou sobre a questão do racismo, sob a ótica do capital. Além disso, se inspiraram na ironia machadiana para fazer a releitura dos depoimentos da Carolina.
O espetáculo, que teve ensaio aberto em Berlim, ficou em cartaz em São Paulo até 2010, passando por espaços como o Clariô, em Taboão da Serra, o Teatro Imprensa, no baixo do Bexiga, e uma pequena temporada no Rio de Janeiro.
Durante o processo de criação de “Ensaio sobre Carolina”, “Os Crespos” receberam um convite para trabalhar na montagem de “Anjo Negro”, de Nelson Rodrigues, com direção do alemão Frank Castorff, do lendário Teatro Volksbühne. Com o importante encenador, o grupo se apresentou tanto no Sesc Vila Mariana em São Paulo, quanto em Salamanca no Festival Castilla y Lion e no próprio Volksbühne ou Teatro do Povo, na Alemanha.
Enquanto não tem residência fixa, “Os Crespos” têm dividido os ensaios da peça “A Construção da Imagem e a Imagem Construída”, com a direção de Eugênio Lima (Bartolomeu), entre um teatro alugado no Bexiga e o Núcleo Bartolomeu, na Pompéia.